A relação entra as duas transaminases aspartato aminotransferase e alanina aminotransferase (AST/ALT), também conhecida como relação De Ritis, é calculada com base nos valores séricos das atividades destas enzimas, bastante utilizada na medicina para direcionar o diagnóstico diferencial entre hepatopatias e doenças extra-hepáticas e, dessa forma estabelecer um prognóstico. Na Medicina Veterinária o seu uso não é corriqueiro e a sua importância ainda é desconhecida. Este estudo objetivou avaliar a relação De Ritis em cães saudáveis e em diagnósticos de hepatopatias e outras doenças extra-hepáticas observadas na rotina médica veterinária. Foi realizado um estudo retrospectivo, com dados de 302 cães atendidos no Hospital Veterinário da UFMG, Belo Horizonte (MG), e que tiveram exames bioquímicos realizados no Laboratório de Patologia Clínica Veterinária entre os meses de janeiro e maio de 2019. Dois experimentos foram conduzidos de maneira complementar, sendo incluídos nas análises os animais “saudáveis”, “hepatopatas agudos e crônicos” e portadores de doenças extra-hepáticas (piometra, trauma/fraturas, intoxicação/ envenenamento, leishmaniose, hemoparasitose, nefropatia). Foram analisados os resultados de exames hematológicos e bioquímicos séricos, avaliando o comportamento das enzimas hepáticas e médias da relação AST/ALT em dois momentos, momento zero (M0) e 48 horas após o M0 (M48). No experimento 1, animais portadores de hepatopatia aguda apresentaram atividades médias de ALT e AST muito acima do limite superior dos intervalos de referência para a espécie. A relação AST/ALT mostrou-se inversamente proporcional a gama glutamil transferase (GGT), ALT, fosfatase alcalina (ALP) e albumina. No experimento 2, para avaliar o efeito da relação AST/ALT sobre o desfecho, foi ajustado um modelo de regressão logística adequado a dados dicotômicos (vivo/óbito). Para análise do efeito do tratamento pelo tempo, foi calculada a média da relação AST/ALT dos grupos que apresentavam pacientes com resultados no M0 e M48. Animais portadores de hepatopatias crônicas apresentaram a maior média da relação AST/ALT, e apesar de apenas 19,74% dos animais terem sido classificados como portadores de hepatopatia crônica, os achados deste estudo sugerem que a relação De Ritis seja mais eficaz para a sua identificação do que para hepatopatias agudas. A determinação da relação De Ritis nos momentos M0 e M48 se mostrou uma importante ferramenta para a avaliação da eficácia na conduta terapêutica adotada para o paciente. Animais alocados nos grupos “piometra”, “intoxicação/envenenamento” e “fratura/trauma” apresentaram médias altas para a relação AST/ALT (2,67, 2,54, e 2,21, respectivamente). A correlação entre a relação AST/ALT em avaliações seriadas (M0 e M48) e a resposta prognóstica de sobrevivência, mostrou que quando animais dobram o valor da relação De Ritis do M0 para o M48, estes tendem a apresentar uma probabilidade 2,5 vezes maior de vir a óbito. Dessa forma, concluise que a relação AST/ALT deva ser incluída na rotina clínica e utilizada na avaliação da evolução da doença em cães.
Palavras-chave: Biomarcador, relação De Ritis, doença extra-hepática, hepatopatia, transaminases.
Dr.(a). Fabíola de Oliveira Paes Leme
Dr.(a). Débora da Silva Freitas Ribeiro
Dr.(a). Rubens Antônio Carneiro