A produção de alimentos para o homem é uma questão complexa que atualmente enfrenta dois grandes entraves: produção de nutrientes em quantidade suficiente em espaços cada vez menores, e a sustentabilidade ambiental (FAO, 2002). A ideia de obtenção de alimentos e produtos a partir das microalgas não é nova, mas as tecnologias atuais permitem melhores estudos e obtenção desses produtos a custos baixos e preços competitivos. Além disso, há a vantagem da possiblidade de cultivo de microalgas em praticamente todo o tipo de ambiente, favorendo a produção de alimentos que atenda a crescente demanda mundial. Atualmente as microalgas vêm sendo cada vez mais utilizadas na obtenção de nutrientes para a alimentação animal e humana, como óleos poliinsaturados, proteínas e carboidratos, bem como para a obtenção de outros co-produtos utilizados na industria alimentícia, como pigmentos e géis. Muitos fatores influenciam o crescimento das microalgas, sendo que a disponibilidade de nutrientes é bastante relevante nesse aspecto (Muller et al, 2003; Borowitzka, 2013). A sustentabilidade é um princípio fundamental na gestão dos recursos naturais e que envolve a eficiência operacional, a minimização do impacto ambiental e considerações socioeconômicas, todos os quais são interdependentes. A produção de cachaça é uma boa opção para quem tem plantação de cana-de-açúcar, porém, se certos cuidados não forem tomados, as consequências para o ambiente podem ser muito graves. Quando o produtor não dá destino adequado aos resíduos (bagaço, vinhoto e águas de lavagem), essa atividade torna-se altamente poluente. Dentre os resíduos industriais provenientes do processamento da cana-de-açúcar, o vinhoto destaca-se como problema de grande importância não só pelo potencial poluidor, mas também pelo volume produzido, que acarreta dificuldades e altos custos de seu manuseio. Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais produz anualmente cerca de 480 milhões de litros de vinhoto (para cada litro de cachaça produzido são obtidos em média 4 litros de vinhoto). Um dos maiores gargalos no cultivo de microalgas está no custo dos meios de cultivo, entretanto varias podem ser as fontes alternativas de nutrientes que desempenham o papel de meio de cultivo como, por exemplo, o vinhoto de cana-de-açúcar (Bertoldi et al, 2008). Há estudos sobre a produção de microalgas em vinhoto, mas todos eles voltados para a obtenção de biodisel, e não de alimentos.O objetivo geral deste projeto é associar a produção de alimento saudável à sustentabilidade, por meio do cultivo de microalgas em resíduo de alambique (vinhoto). Isto evitaria o descarte de poluentes ambientais (resíduo de alambique ou vinhoto), além de possibilitar a produção de alimentos em espaços limitados ou pouco produtivos. O(s) produto(s) obtidos seriam avaliados em relação aos seus perfis proteicos, lipídicos e quanto ao desenvolvimento de biotoxinas.
Os resultados desse projeto também poderão ser aplicados em outras vertentes, ao testar cultivo de outras microalgas especificas; produção adubo orgânico para o solo com a biomassa produzida, sem a necessidade de maiores manipulações. Este projeto se alinha às premissas mundiais atuais de buscar a sustentabilidade na produção de alimentos de origem animal utilizados para a alimentação humana, em um tipo de produção visando a diminuição da pegada de carbono e emissão de resíduos ao ambiente. Por fim, o principal produto obtido deste projeto propiciará a inclusão dos pequenos produtores de cachaça em um nicho mercadológico que agrega valor ao produto final, por ser caracterizado como sustentável, gerando competitividade junto aos grandes produtores de aguardente. A biomassa produzida também poderá agregar valor econômico, conforme a utilização que será dada pelo produtor. Nosso objetivo é estabelecer o cultivo das microalgas para fins alimentares a partir de resíduo de alambique (vinhoto), agregando valor econômico com apelo ambiental para o que seria um resíduo poluente. Esta alternativa possibilitaria uma maior competitividade entre os pequenos produtores de cachaça e os grande produtores industriais de aguardente, principalmente aos que optarem em trabalhar no modelo cooperativo.
Link do projeto no SIEX/UFMG: https://sistemas.ufmg.br/siex/VerDescricao.do?id=86116&tipo=Projeto