A ocorrência de doenças infecciosas é caracterizada como um dos principais entraves para o desenvolvimento da agropecuária mundial (FAO, 2012). De acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a doenças animais causam a perda global de pelo menos 20% da produção anualmente. Isso representa ao menos 60 milhões de toneladas de carne e 150 milhões de toneladas de leite, com um valor aproximado de US$ 300 bilhões por ano (OIE, 2016). Além disso, as enfermidades infeciosas estão entre as principais responsáveis por mortes de animais de companhia. Cães e gatos são os animais de estimação mais populares do mundo. Hoje em dia, os cães, por exemplo, assumiram muitas funções como guias para pessoas cegas, como agentes terapêuticos, como cães de guarda e de caça. Em muitos países em desenvolvimento, como no Brasil, cães e gatos tornaram-se parte de famílias humanas, independentemente da classe social (Dantas-Torres e Otranto, 2014). Assim, os quadros de doença e a morte desses animais causam impacto sócio afetivo e sofrimento para as famílias.
No Brasil devido à dimensão continental do país e grande diversidade de animais de produção e companhia, não existem levantamentos epidemiológicos amplos sobre os principais agentes etiológicos causadores de doenças em animais de companhia e de produção. Porém, as doenças de etiologia bacteriana são problemas comuns enfrentados por médicos veterinários na prática clínica de pequenos animais e animais de produção.
O diagnóstico laboratorial das doenças bacterianas tem se tornado cada vez mais importante nos últimos anos, principalmente devido à emergência da resistência bacteriana aos antimicrobianos e falhas terapêuticas verificadas com o uso desses medicamentos. A resistência a antimicrobianos é considerada atualmente um problema de saúde publica. As ligações entre os animais e os seres humanos, no que diz respeito à emergência e propagação da resistência, é uma questão central nessa discussão (Founou et al., 2016; Toutain et al., 2016). Atualmente, a medicina veterinária de produção não enfrenta a mesma situação crítica que a medicina humana, porque infecções sistêmicas severas por microrganismos resistentes em aves, suínos ou bovinos não são usuais. Além disso, a prevalência de resistência para os principais agentes patogênicos veterinários que não podem ser tratados por qualquer antimicrobiano é ainda limitada (Toutain et al., 2016). De maneira antagônica, a resistência a antimicrobianos é um problema na clinica veterinária de pequenos animais. Vários estudos longitudinais realizados em hospitais veterinários indicaram que a resistência a vários agentes antimicrobianos emergiu de isolados Staphylococcus sp., Escherichia coli e outras bactérias provenientes de animais de estimação (Guardabassi et al., 2004). Além disso, a ocorrência de falhas terapêuticas e recidivas de infecções são comumente verificadas na pratica clínica.
Diante do exposto, a realização de um diagnóstico acurado de doenças bacterianas, bem como a determinação da sensibilidade dos isolados aos antimicrobianos, é de extrema relevância para veterinários clínicos e produtores de animais de produção e companhia. O objetivo do projeto é realizar o diagnóstico microbiológico, sorológico e molecular de doenças de animais produção (bovinos, suínos, aves, peixes, camarões entre outros) e animais de companhia (cães, gatos, entre outros), assim como, realizar testes de sensibilidade a antimicrobianos (discos de difusão e concentração inibitória mínima) e de tipagem de microrganismos.