As APIC’s surgiram em 1978 quando um grupo de estudantes da Escola de Veterinária da UFMG (EV-UFMG), visando melhorar a qualidade do ensino, propôs a realização de uma atividade acadêmica que permitisse a vivência prática dos conhecimentos pertinentes à Medicina Veterinária e que ao mesmo tempo trouxesse benefícios diretos aos produtores rurais. Assim, foi criada uma atividade de Extensão Universitária de interação dialógica, que resulta na troca de saberes para produção de conhecimento a partir do confronto com a realidade regional, permitindo aos estudantes acompanharem propriedades rurais orientados por professores da EV-UFMG, discutirem os sistemas com os produtores rurais (sociedade) e elaborarem recomendações técnicas a estes. As APIC’s se configuram como um projeto de Extensão que alçou a condição de disciplina do curso de Medicina Veterinária da UFMG, possibilitando a integralização de créditos curriculares.
Como na década de 1970 as discussões sobre a Extensão Universitária eram ainda incipientes, estes estudantes propuseram que a atividade se chamasse: Aulas Práticas Integradas de Campo – APIC. Assim, o projeto de Extensão APIC é a ação desta natureza mais antiga em atividade na EV-UFMG. Em respeito à tradição e homenagem aos seus idealizadores o nome não foi modificado, permanecendo como “Aulas”. Ao longo destes anos já foram realizadas aproximadamente 200 APIC’s (2016), com o atendimento a cerca de 5.000 propriedades rurais (2016).
A Escola realiza seis APIC’s por ano, onde cinco grupos de dez alunos cada, permanecem durante uma semana em visitas e atendimentos à, no mínimo, 25 propriedades rurais diferentes, sendo acompanhados e orientados por cinco a sete professores com diferentes expertises. A relevância social deste projeto é constatada quando se observa que somente 22,00% dos estabelecimentos agropecuários recebem algum tipo de assistência técnica. Assim, este modelo de trabalho, com a permanência por apenas um dia da equipe da Escola de Veterinária em cada propriedade permite o atendimento a um maior número de estabelecimentos. É importante observar que para os estudantes esta metodologia também é benéfica, uma vez que tem a oportunidade de observar uma gama maior de sistemas produtivos, sendo desafiados para a solução dos mais variados problemas (inter e multidisciplinaridade e interprofissionalismo). Outro fator que merece destaque é que as APIC’s não são a única atividade de campo desenvolvida na Escola de Veterinária. Assim, as APIC´s potencializam os atendimentos de campo desenvolvidos pela EV-UFMG e também o contato dos estudantes com a realidade rural, possibilitando a eles o necessário aprimoramento técnico e humano para o desempenho da Medicina Veterinária.
Para a realização das APIC´s não são pré-definidas características das propriedades rurais (tamanho, volume de produção, tipificação social), uma vez que se pretende atender às demandas dos parceiros locais que auxiliam na organização da atividade e também a participação de proprietários que realmente se interessem em receber este atendimento técnico por parte da equipe da EV-UFMG. Nesta perspectiva, os estudantes são expostos e desfiados às mais variadas condições de trabalho, à produtores com objetivos e recursos financeiros dispares, aprimorando a aplicação dos conceitos teóricos à realidade do campo. Fica evidente a indissociabilidade entre Extensão e Ensino, onde o projeto coloca o estudante como protagonista de sua formação técnica e cidadã, o que gera impacto significativo na sua formação como estudante e em extensão universitária. Na relação entre Extensão e Pesquisa, temos inúmeros exemplos de pesquisas-ação desenvolvidas a partir de situações vivenciadas durante as APIC’s, como o caso dos recentes surtos de tripanossomose bovina. O diálogo com a sociedade aproxima a Universidade dos problemas reais na busca por soluções que gerem impacto e transformação social nas comunidades. Os APIC’s possibilitam aos estudantes de graduação em Medicina Veterinária na UFMG formação socialmente comprometida ao vivenciarem situações reais de campo, sob orientação de professores, e beneficiar produtores rurais com assistência técnica aos seus sistemas produtivos, por meio de visitas técnicas com duração de um dia.