A região da zona da mata mineira é o maior polo produtor de peixes ornamentais do Brasil, tendo o Município de Patrocinio do Muriaé como um dos protagonistas. A maioria dos aquicultores ornamentais deste município se especializou na produção de peixe Betta (Betta splendens). Este peixe de origem asiática, apesar de bem comercializado mundialmente, é pouco pesquisada. Este pequeno volume de informações técnico científicas fez com que os produtores fossem desenvolvendo tecnologias e manejos próprios para a produção deste animal.
O cultivo da espécie geralmente é feito em sistemas semi-intensivos e intensivos. O que estes sistemas de produção têm em comum, além da água, é que todos eles vão gerar resíduos. Normalmente esses resíduos são divididos em três tipos: animais cultivados, animais micro, (vermes e parasitas) e a água, o efluente.
Qualquer organismo aquático que é cultivado em cativeiro, nunca deve ser solto na natureza, salvo algum projeto que tenha como objetivo o repovoamento. Isso porque ao cultivar algum animal em cativeiro, ele vai ter contato com outros animais podendo pegar algum parasita do sistema, e ao soltá-lo na natureza pode levar esse parasita consigo.
Em relação aos animais micro, temos como exemplo o verme âncora, Learnea. Ele é um crustáceo parasita que foi trazido ao Brasil, através de importação de carpas e kinguios e hoje é um problema sério no país.
O principal resíduo originado pelas pisciculturas ornamentais é a água, o efluente. O efluente de aquacultura ornamental possui uma quantidade elevada de matéria orgânica e apresenta elevada demanda bioquímica de oxigênio, grande concentração de sólidos em suspensão e compostos nitrogenados e fosfatados, derivado do acúmulo da sobra de ração usada na alimentação dos animais e dos seus dejetos. Como consequência pode provocar a aceleração da produtividade de algas, alterando a ecologia do sistema aquático e contribuindo diretamente para uma aceleração no processo de eutrofização dos corpos d´água. Quanto mais fertilizantes e ração for utilizado no cultivo, maior será a concentração destes nutrientes.
Vários produtores do Município de Patrocinio do Muriaé, normalmente apresentam os três tipos de resíduos citados acima em suas produções, o que podem ter como consequências o aparecimento de doenças e deteriorização da qualidade da água de produção que afeta diretamente a qualidade e saúde dos peixes. Muitas vezes esses problemas podem ser resolvidos ou evitados com pequenos manejos relacionados a alimentação dos animais, adubação dos tanques e quantificação da densidade de animais.
Muitas vezes, manejos realizados pelos produtores são ancorados em pequeno volume de informações técnico científicas de confiança nos quais tenham acesso. São poucas as publicações científicas em português, o que por si só já seria um empecilho ao aceso destes produtores a tais informações, pois a maioria das informações se encontra em outras línguas, somando-se ainda a este fator, a sua baixa escolaridade. Deste modo a realização de grupos de discussão para o debate de temas de interesse dos produtores ligados aos problemas de manejos relacionados á qualidade de água, manejo alimentar, e sanidade de peixes beta, incluindo sua aplicabilidade nos sistemas instalados, por meio de revisões de literatura se torna importante.
O presente trabalho propõe a realização de um projeto de extensão universitário com as comunidades de produtores de peixe beta no município de Patrocínio do Muriaé-MG, com a realização de atividades de resgate de informações sobre esta atividade produtiva, em uma metodologia de resgate de saberes camponeses. Propõem-se também a realização de ciclos de debates onde os integrantes do projeto procedem a revisões de literatura de temas demandados pelos produtores e posteriormente. É proposto também a realização de visitas para acompanhamento do manejo alimentar e de qualidade de água da produção e coleta de material para análise, quando necessário. Nós desenvolvemos atividades de divulgação de informações científicas envolvendo a espécie Betta esplendens e sua produção sustentável, auxiliar e orientar os produtores nas análises de qualidade de água, manejo alimentar e sanidade dos animais, recuperar e discutir os conhecimentos sobre a produção desta espécie com os aquicultures, fortalecer as comunidades com o objetivo de melhor inserção no mercado da produção de peixes.
Atualmente foi feita visitas a vários produtores, na semana entre os dias 25/03 a 01/04. Eles tiveram análise de água avaliados, como também seus afluentes e efluentes. Foi realizada também avaliações sobre o sistema de produção em si, sobre o manejo alimentar e também sobre a sanidade dos animais de produção. Devido a pandemia, em 2021 não tivemos visitas presenciais na comunidades. Foram feitos 2 contatos com a comunidade via vídeo-conferencia, telefone e também por WhatsApp. O projeto gerou a publicação de um artigo, publicado no final de 2021.