Esporotricose é uma infecção micótica de tecidos cutâneos e subcutâneos causada por fungos do complexo Sporothrix, que compreende pelo menos seis espécies, sendo S. brasiliensis a predominante no Brasil (Rodrigues et al., 2013). A doença pode ocorrer em humanos e em várias espécies animais, principalmente gatos, equinos e cães (Bazzi et al., 2016). Em gatos, há três formas clínicas: linfocutânea, cutânea e disseminada. A forma cutânea é a mais comumente relatada, tendo como sinais clínicos nódulos firmes, únicos ou múltiplos, áreas crostosas e alopécicas ou ainda placas ulceradas com bordas elevadas e secreção. Nessa espécie, as lesões ocorrem em extremidades de membros, cauda e cabeça, especialmente na ponta do nariz e pina, mas podem afetar qualquer parte do corpo (The Merck Veterinary Manual; Lloret et al., 2013). Já em humanos, a doença é oportunista, pois as formas mais graves ocorrem em pacientes com sistema imunológico comprometido pelo uso de drogas imunossupressoras e em portadores do HIV (vírus da imunodeficiência humana) (Carlos e Batista-Duarte, 2015).
A afecção, conhecida tradicionalmente como “doença do jardineiro”, é considerada um risco ocupacional para pessoas que lidam com plantas, solo ou materiais vegetais. Isso se deve às características saprofíticas e geofílicas do agente, já que a transmissão clássica ocorre por meio da inoculação do fungo através de perfuração por espinhos ou lascas de madeira (Lopes-Bezerra et al. 2006; Schubach et al. 2012).
Entretanto, há alguns anos, está havendo uma mudança no perfil de transmissão e a esporotricose está ocorrendo de forma zoonótica, através de mordidas e arranhões de animais em ambiente domiciliar. Nesse caso, o principal transmissor é o gato, cada vez mais presente como animal de companhia, por carregar o agente nas unhas e na cavidade oral, além de possuir grande quantidade de leveduras nas lesões se comparado aos outros animais (Gremião et al., 2017).
No Rio de Janeiro, Gremião et al. (2015) descreveram mais de 4.000 casos humanos e mais de 4.100 casos felinos de esporotricose entre 1998 e 2012, diagnosticados no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC)/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sendo este o maior surto de esporotricose zoonótica já registrado no mundo (Silva et al., 2012; Chakrabart et al., 2015).
No final de 2016 foi registrado, em Contagem, o primeiro caso de esporotricose felina na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Das oito Regionais do município, a Regional Riacho foi a primeira a emitir o alerta para o nível central e a que aparentemente apresenta o maior número de casos. A doença se mostrou crescente a partir de então, com diversos registros no Distrito Riacho, totalizando até o mês de abril/2017 3 casos humanos e 17 casos animais, todos gatos domésticos com diagnósticos clínicos e/ou laboratoriais.
Por se tratar de uma zoonose emergente no município de Contagem, faz-se necessário o estudo do perfil epidemiológico da esporotricose em animais, normatizando estratégicas e estipulando protocolos e ações relacionadas à transmissão e a ocorrência da doença. O município, até então, não possui sistema de vigilância da doença, bem como políticas públicas para contenção dos casos e preservação de impactos à saúde pública e à comunidade do entorno.
O estudo será realizado com base na investigação das ocorrências, por meio do recebimento de amostras coletadas pela equipe do Centro de Controle de Zoonoses e pelos Agentes de Combate a Endemias (ACEs), em Contagem, recebidas e analisadas na Escola de Veterinária Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais (EV/UFMG). O nosso objetivo é caracterizar a ocorrência de esporotricose em animais no Distrito Riacho, localizado no município de Contagem/MG, visando o mapeamento das ocorrências e as possíveis intervenções de controle e adoção de medidas preventivas eficazes, diante do risco de maior incidência dessa zoonose. A campanha de castração terá como objetivo avaliar o impacto da esterilização cirúrgica sobre a dispersão da doença no território.