A nova gestão do setor de suinocultura completa dois anos de atividade. O setor passou por diversas mudanças durante esse período. Foram modificados o fluxo de produção mensal, a venda direta de frigoríficos, o foco na biosseguridade, sanidade do plantel, a renovação do material genético e o maior uso em ensino, pesquisa e extensão.
Foto: prof. Israel da Silva (2016)
Todos os setores da Fazenda Experimental prof. Hélio Barbosa, em Igarapé (MG), funcionam como salas de aula, laboratórios de experimentação científica e unidades de demonstração, ou seja: apoiam as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão da Escola de Veterinária da UFMG. Mas também tem a tarefa de gerar receita para cobrir os custos da ração, mão de obra, manutenção, etc., como qualquer atividade econômica.
Grandes mudanças
A prof.ª Simone do Departamento de Zootecnia é um das responsáveis pela gestão do setor de suinocultura. Ela destaca as principais mudanças realizadas nos últimos dois anos:
Fluxo de produção mensal, isto é, as 40 matrizes são divididas em 5 lotes (ou “bandas”), com 8 matrizes cada. Então, o plantel tem sempre um lote em fase de cobrição, três em gestação e um em lactação. Dessa forma, há 8 partos por mês e, portanto, há cerca de 80 leitões terminados por mês para venda.
Venda direta a frigoríficos: o fluxo de produção permitiu concentrar um número suficiente de leitões para venda a frigoríficos da região que tem serviço de inspeção federal ou estadual. Com isso, foram proibidos, em 2015, as vendas “no portão” e os abates na balança, aumentando-se tanto o controle sanitário quanto a receita do setor.
Foco na biosseguridade e sanidade do plantel: até 2015, havia grandes perdas com leitões refugos (atrasados ou doentes), com sintomas de doenças pulmonares (tosse e espirros) e entéricas (coccidiose e circovirose), além de infestação por Ascaris. Os baixos índices reprodutivos também eram preocupantes. Foram elaborados os POP (Procedimentos Operacionais Padrão), com novo esquema de vacinação e vermifugação e novos produtos para desinfecção dos galpões. Uma reforma nas instalações (graças ao apoio da Diretoria da Escola de Veterinária) melhorou o isolamento contra o trânsito de veículos, animais e pessoas alheias ao setor. Também foi instituído o livro de visitas, essencial para a vigilância epidemiológica.
Renovação do material genético: O plantel de reprodução estava descaracterizado por anos de sucessivas reposições com animais de abate. Em 2015 e 2016, foram doadas ao setor, 30 leitoas de genética Topigs (do plantel de avós do campus da UFMG de Montes Claros) e 08 machos AgPIC de quatro linhagens (da Agroceres-PIC em Patos de Minas), sendo que 2 deles foram para um experimento da profa Fernanda. Este ano, o setor recebeu mais 5 machos AgPIC para substituir os primeiros.
Maior uso em Ensino, Pesquisa e Extensão: O setor sempre recebeu alunos e pesquisadores, mas a precariedade das instalações e dos controles sanitários e zootécnicos vinha comprometendo essa função. Com as melhorias implantadas pela nova gestão, todos ganharam. Em 2015 e 2016, foram dadas aulas práticas no setor para cerca de 480 alunos em 7 disciplinas de graduação e 2 de pós-graduação, vivência curricular para 4 alunos e 2 visitas monitoradas para instituições externas (suspensas em 2016). Foram realizadas 03 pesquisas no Setor (DZOO, DMVP e ICB) e coletas de sangue (DCCV) e urina (DTIPOA) para suporte de pesquisa.
Desafios e Perspectivas para 2017
Após dois anos na gestão do setor de suinocultura, as professoras responsáveis conhecem bem os desafios e as potencialidades de ter em mãos uma extensão da sala de aula e do laboratório.
Para a professora Simone, as ações até agora foram voltadas para estabelecer os procedimentos de rotina e, neste quesito, ainda falta o treinamento mais efetivo dos dois funcionários do setor, principalmente com a recente aposentadoria do funcionário mais antigo e experiente, o Nenêgo.
Nenêgo e Marquinhos, embarque do frigorífico. Foto: profª Simone Garcia (2016)
Além disso, a professora espera alcançar os índices zootécnicos estabelecidos para o Setor – ela explica: “Embora seja uma minigranja, o manejo lá é intensivo e os resultados são sempre analisados (com o software da Agriness). Em 2016, conseguimos 22,65 leitões desmamados/fêmea/ano, que é um resultado 24% maior que o de 2014, ou seja, hoje, cada porca desmama, em média, 4,44 leitões a mais por ano. São 40 porcas no plantel, então, é um bom resultado. No entanto, nossa meta são 25,70 leitões. Sem aumentarmos a eficiência reprodutiva do plantel, dificilmente conseguiremos pagar os principais custos (ração, mão de obra, manutenção, medicamentos, entre outros), tanto que ainda estamos operando “no vermelho”, embora a receita tenha aumentado substancialmente em 2016. Em minha opinião, os desafios para este ano passam todos pelo treinamento de pessoal. As perspectivas, por outro lado, passam pelo trabalho da equipe, pois dependem de projetos de médio prazo para o setor. Minha ideia é restaurar a cobertura vegetal nos antigos piquetes para viabilizar o sistema de semiconfinamento para porcas em gestação e, para isso, já contamos com o apoio do professor Diogo Jayme, Diretor da FEPHB. Também visando ao bem-estar animal, é necessário reformar o embarcadouro, o que ainda depende de recursos financeiros”.
A professora Fernanda Almeida comenta, ainda, que “Nosso objetivo frente ao setor de suinocultura é fazer dele uma granja ‘escola modelo’, para que os alunos tenham contato com diferentes sistemas de criação de suínos e possam vivenciar as realidades e desafios de um sistema de criação comercial. Atualmente, nossa principal meta é melhorar a eficiência reprodutiva do plantel. Para tanto, a capacitação dos funcionários quanto à detecção de cio, bem como protocolos de cobertura, é essencial. Esse certamente será o primeiro passo para atingirmos a meta de 25,7 leitões desmamados/fêmea/ano. Temos muito ainda que caminhar para alcançá-la, no entanto, com dedicação e compromisso, em breve chegaremos lá”.
Foto: profª Simone Garcia (2015)
História
O Setor de Suinocultura é um dos mais antigos da FEPHB: um dos galpões é da década de 1940, antes mesmo da aquisição da fazenda pela UFMG! As outras instalações ocupam 7 hectares projetados para o sistema de semiconfinamento e foram erguidas em 1986 pelo saudoso prof. Antônio Stockler Barbosa, do Departamento de Zootecnia, com recursos do projeto de Conservação de Raças Suínas Brasileiras. Em 12 anos deste Projeto, foram defendidas 10 dissertações e 1 tese, todas sobre a raça Piau, que hoje está em extinção.
Em 1998, o setor ganhou cara nova com o prof. Israel José da Silva (DMVP), que adaptou as instalações para o confinamento total e introduziu reprodutores híbridos comerciais da genética DanBred, dimensionando para 40 porcas (matrizes).
Com nova gestão desde 2015, uma equipe de docentes passou a atuar no Setor, sob a responsabilidade das professoras Fernanda Radichi C.L. de Almeida (DMOF-ICB) e Simone Koprowski Garcia (DZOO). Colaboram os professores Roberto Guedes (DCCV), Israel da Silva (DMVP) e Dalton Fontes (DZOO).
Foto: profª Simone Garcia (2016)