Qual a importância de sabermos a causa da morte de um animal? Em se tratando de necropsia em medicina veterinária as respostas são muitas. Seja para o produtor rural que possui animais de alto valor econômico ou para os donos de pequenos animais, a necropsia pode ser muito útil. Mas será que é um processo muito difícil de ser realizado? O tempo de morte do animal pode influenciar no resultado do exame? Quantos casos são atendidos em média e como a realização da necropsia entra na formação do graduando em medicina veterinária da UFMG? Essas e outras perguntas quem responde é a professora Rogéria Serakides, do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias.
Para o produtor rural, a necropsia é fundamental para que ele saiba se o animal morreu em função de alguma doença e evitar que ela possa acometer outros do rebanho. “É necessário saber se foi uma doença infecciosa ou uma deficiência nutricional decorrente da dieta, para que ele possa minimizar futuros casos e evitar perdas econômicas”, esclarece Rogéria. Também há casos em que o animal possui alto valor zootécnico, seja porque eles ganham prêmios ou são doadores de sêmen ou embriões, e são assegurados em valores altíssimos. “São animais que rendem mensalmente ao proprietário uma pequena fortuna e é compensatório se fazer um seguro pois se o animal morre o dono vai perder muito mais do que numa batida de carro”, explica a professora. Nestas situações a necropsia é praticamente uma exigência para que o proprietário receba o valor da asseguradora.
Mas nem sempre o motivo é saber a causa da morte. “Já fizemos necropsia de animais que foram baleados pois o delegado de polícia que encaminhou o animal precisava da bala que estava alojada no bicho para dar sequência à investigação do caso”, conta Rogéria. Além deste, outros casos interessantes já ocorreram como a necropsia de um Dobermann que entrou na frente do seu proprietário no momento em que ele ia levar um tiro. “Foi um episódio que me comoveu pois ele foi baleado para defender seu dono”, relembra a professora. Também houve um episódio no qual o hospital recebeu cerca de 15 urubus para a necropsia. “O Ibama solicitou o procedimento pois eles suspeitaram de que alguém havia envenenado o lixo para matar as aves. E até animais vítimas de rituais macabros já recebemos, infelizmente”, afirma.
Apesar de a clínica estar cada vez mais desenvolvida, com tecnologias mais aprimoradas e profissionais competentes nos seus diagnósticos, será somente a necropsia que dará a certeza sobre a verdadeira causa da morte de um animal. Rogéria conta que é muito comum a necropsia ser solicitada pelos proprietários a fim de confirmar o diagnóstico do médico veterinário e se o animal foi tratado de forma adequada. “Também é frequente o pedido de necropsia de animais que morrem durante o banho em pet shops. Nesses casos é possível que o animal já tenha algum tipo de problema ou tenha falecido por maus tratos”, lembra.
A realização de uma necropsia é relativamente simples e pode ser feita tanto em uma sala específica quanto a campo também, com a cautela de dar para aqueles restos de animal o destino apropriado. “Se aquela carcaça permanecer no pasto podemos provocar um outro problema”, adverte Rogéria. Para a necropsia em são necessários uma faca, uma tesoura e uma pinça. Na hora de recolher o material para encaminhá-lo para o laboratório aí sim são necessários frascos e sacos plásticos apropriados para se realizar exames mais detalhados, nos casos em que a necropsia não é conclusiva.
Por semana são realizados cerca de 30 procedimentos e Rogéria afirma que o índice de casos no hospital é um dos maiores do Brasil. “Atendemos principalmente os pequenos animais por estarmos relativamente afastados das propriedades rurais”. As necropsias são feitas pelos professores da patologia, residentes e alunos de mestrado e doutorado. E pelos próprios alunos de graduação, uma vez que muitas dessas necropsias são feitas durante as aulas com muita prática. “O nosso objetivo é que eles aprendam a fazer a necropsia, identificar lesões, fazer relatórios descrevendo estas alterações e até mesmo dar um diagnóstico morfológico. E, além disso, saber colher material para encaminhar para o laboratório”, explica a professora.
O tempo de morte também é um fator importante na realização de uma necropsia e que pode influenciar em seu resultado. “Nos casos em que ele é muito extenso é possível que a visualização de alterações que contribuíram para o óbito seja comprometida. Por isso quanto mais rápido ela for realizada melhor, principalmente quando o animal for de grande porte”, avalia Rogéria. Pequenos animais podem ser refrigerados por até 3 dias e serem mantidos em bom estado para serem necropsiados enquanto nos grandes o período de 24 horas já pode ser decisivo devido ao processo de putrefação. No entanto, a professora conta que eles nunca deixam de realizar o procedimento. “A necropsia sempre é realizada na esperança de encontrarmos alguma alteração e assim fecharmos o diagnóstico”, conclui.