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Notícia

Projeto Carroceiros: conscientização, valorização e pesquisa

Conscientização dos carroceiros, valorização da saúde do homem e do animal, limpeza urbana e pesquisa: esses são os principais pilares envolvidos no Projeto Carroceiro que é coordenado pela professora Maristela Silveira Palhares, do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG, que tem como um dos objetivos principais incentivar o correto descarte de entulho pelos carroceiros e reciclar esse material para ser usado novamente pela população. Entre as atividades realizadas estão a comemoração do Dia do Carroceiro e o Encontro Anual do Carroceiro.

O Projeto Carroceiros nasceu em 1997 de uma parceria da UFMG com a SLU (Secretaria de Limpeza Urbana) da Prefeitura de Belo Horizonte e surgiu da necessidade de se incrementar a coleta de resíduos da construção civil, que era feita por carroceiros e era colocado em bota-fora clandestino. “Além dessa função de ajudar a limpar o ambiente urbano, a iniciativa também ajudaria a diminuir gastos com dinheiro público, uma vez que cada tonelada de material que era retirado de local inapropriado custava, em média, 15 dólares aos cofres do município”, destaca a professora Maristela.

Ela também explica que o projeto possui três frentes principais: a técnica, a veterinária e a mobilização social. A frente técnica é aquela que organiza e gerencia as URPV’s (Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes). No início eram 3 e hoje são 34, nas quais o carroceiro leva o entulho, que  é separado, vai para as estações de recolhimento (no Estoril, na Pampulha, Califórnia e uma quarta que está sendo construída na saída para Sabará) onde é triturado, reciclado e volta para a população sob a forma de tijolos, sacos de conter encosta ou base para a pavimentação de ruas e praças.

A frente veterinária é a mais ligada à Escola. Toda semana, com participação dos alunos, é feita a vacinação dos animais contra a raiva, são realizados exames clínicos e laboratoriais, os animais são marcados com nitrogênio líquido e emitem-se carteiras de controle de saúde, exigidas pelo código municipal para que o animal circule na cidade. “A escola possui também dois garanhões da raça Hafflinger e um jumento Pêga, que são usados na cobrição das fêmeas e a produção de meio-sangue de tração. Além disso, é realizado um atendimento clínico aos animais doentes no Hospital Veterinário durante todo o ano”, lembra.

Ainda são oferecidos cursos, geralmente de 96 horas, de formação de mão-de-obra que visam melhorar a qualificação dos carroceiros para que eles possam gerar renda fazendo cabresto, rede para feno, entre outras coisas. E também possam aprender cuidados básicos com a saúde animal, como limpar um casco e dar um banho carrapaticida, por exemplo, justamente para melhorar a qualidade do animal e agregar valor ao seu trabalho. “No último curso dado, o foco foram os filhos dos carroceiros que estavam entrando na profissão, pois se entende que eles estão bastante aptos a incorporar as instruções ao seu trabalho por ainda estarem começando a exercer a função”, analisou Maristela.

A terceira frente, da mobilização social, realizada pela prefeitura, é a responsável por mobilizar os carroceiros, distribuir folhetos instrutivos, informar datas de vacinação, entre outras funções. Entre as atividades do projeto, também é realizada a comemoração do Dia do Carroceiro, no primeiro domingo de setembro, e o Encontro Anual do Carroceiro, feito na Escola de Veterinária, geralmente no final do ano. Em novembro de 2011, foi realizado o 10º Encontro Anual e aproximadamente 150 pessoas compareceram ao evento para assistir às palestras. A professora explica como este evento reflete a necessidade dos carroceiros: “Os temas são escolhidos pelos próprios carroceiros, que respondem a questionários sobre o que eles querem saber, e a partir daí são organizadas as palestras que serão ministradas no encontro”.

Este ano, um dos temas tratados foi sobre INSS, discutindo os direitos, benefícios e formas de pagamento. Um integrante da Polícia Militar realizou uma palestra sobre maus tratos e como a polícia trabalha nestes casos. Três bolsistas do projeto realizaram palestras sobre banho carrapaticida, alimentação ideal e cuidados gerais do animal.

Na parte de saúde do carroceiro, parceiros da Odontologia falaram sobre saúde bucal e ensinaram sobre escovação, e ainda houve um profissional que fez uma avaliação da cavidade oral, e os interessados receberam orientações sobre tratamentos que talvez necessitassem. Também foi realizada medição da pressão arterial, em parceria com a Faculdade de Medicina da UFMG.

Além disso, realizou-se um estudo na regional oeste sobre a saúde do trabalhador, que foi apresentado aos carroceiros abordando os direitos que eles têm sobre sua saúde, o que pode ser feito e aproveitado. Esse encontro anual, segundo a professora, é um importante momento de reflexão: “Nesse encontro é feita uma reunião dos carroceiros para que eles possam discutir, através de mesas redondas, todo o programa realizado durante o ano e a partir daí traçar as metas para o ano seguinte”.

Com resultados positivos e uma demanda que nunca se esgota, a tendência é uma modernização cada vez maior do projeto, que já está nos planos para o próximo ano. “A maior meta para 2012, e para a qual estamos buscando recursos, é colocar chips nos cavalos, que hoje são cerca de 4 mil. Isso irá facilitar o controle desses animais. E a meta contínua é sempre ir agregando os animais de tração e dar uma melhor ambiência a eles”, almeja Maristela.

O projeto também tem um envolvimento científico, com o desenvolvimento de pesquisas. Já foram defendidas cinco teses sobre animais de tração e o resultado dos estudos voltam através de medidas práticas para o carroceiro. Também já foram feitas pesquisas sobre problemas locomotores do cavalo de tração, saúde do trabalhador, perfil socioeconômico do carroceiro e da informalidade do trabalho, alterações de coluna no carroceiro e nos cavalos e um levantamento da leptospirose em equinos (revertendo-se em medidas sanitárias para as regionais com maior índice).

Agora estão sendo desenvolvidas duas teses, uma delas é continuação de uma já existente e estuda novas técnicas para se tratar as lesões na coluna dos animais e a outra é um levantamento sanitário de doenças mais frequentes. “O foco é observar os resultados dessas pesquisas para gerar resultados para os carroceiros. Através da extensão obtemos um rico material para pesquisa e através desta pesquisa geramos medidas que vão auxiliar os envolvidos na extensão. Por isso o projeto é um ciclo que não se encerra e a tendência é se perpetuar e crescer, pois sempre é gerado algo novo e demandas novas.”, conclui Maristela.


 

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