Com o desenvolvimento cada vez maior da agroindústria é inevitável o impacto no Meio Ambiente. Como fazer para crescer a produção sem prejudicar tanto a natureza?
A produção agropecuária, assim como os processos agroindustriais, são atividades de grande potencial poluidor. Elas geram considerável quantidade de matéria orgânica, nutrientes, resíduos e organismos patogênicos que podem contaminar o solo, a água ou o ar. Devido à dificuldade de controle da produção destes materiais poluentes, muitos agroprodutores tinham suas propriedades interditadas por órgãos de fiscalização ambiental. Para resolver este problema foi criado o programa de extensão da Escola de Veterinária da UFMG “Capacitação de pessoal em controle ambiental e saneamento na agropecuária e agroindústria”, que habilita alunos de medicina veterinária a identificarem a ocorrência de problemas relativos ao meio ambiente em propriedades que desenvolvam atividades agropecuárias e agroindustriais.
Segundo o professor e coordenador do programa, Luciano dos Santos Rodrigues, “a necessidade surgiu a partir da carência de conhecimento deste tema entre os alunos e profissionais das ciências agrárias e da demanda dos produtores”. Luciano conta que antes da implantação do programa os veterinários visitavam as propriedades, mas não eram capazes de verificar irregularidades ambientais: “O veterinário resolvia a situação em relação à saúde dos animais, mas não identificava a ocorrência de problemas relativos ao meio ambiente, por exemplo, o uso em excesso de produtos químicos no solo. Por causa disso muitas vezes a propriedade era interditada.”
Com o surgimento do programa, os veterinários passaram a desempenhar uma dupla função. Além de cuidar da saúde de todos os animais, eles se tornaram capazes de verificar inconformidades em relação às leis ambientais e de tomar providências a fim de resolvê-las. Dessa forma, evita-se que o agroprodutor tenha sua propriedade interditada.
Isso só foi possível graças à capacitação de alunos, veterinários e técnicos, no controle ambiental e saneamento na área de agropecuária e agroindústria, por meio de cursos técnicos, atividades de capacitação laboratorial e de campo na caracterização dos efluentes com acompanhamento de sistemas de tratamento de efluentes líquidos e gasosos e manejo de resíduos sólidos.
Os participantes do programa aprendem a realizar técnicas de análises laboratoriais de variados tipos e a importância desse processo na detecção das áreas afetadas. O acompanhamento é feito pelos professores do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva. Durante o processo de aprendizado os alunos coletam amostras, preparam soluções, processam análises físico-químicas e bacteriológicas de efluentes, elaboram laudos e acompanham sistema de tratamento dos efluentes.
De acordo com o professor e subcoordenador do programa, Israel José da Silva, atualmente o programa está concentrado em agroindústrias em Matozinhos e na fazenda experimental de Igarapé. Além disso, os alunos dispõem de um laboratório de saneamento ambiental do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, que possui estrutura para realização de análises físico-químicas e bacteriológicas de água.
O programa de extensão “Capacitação de pessoal em controle ambiental e saneamento na agropecuária e agroindústria” tem conseguido conscientizar profissionais e produtores da importância do manejo adequado de resíduos e efluentes e da preservação do meio ambiente. Com isso as produções agropecuária e agroindustrial têm sido otimizadas, o que deixou os agroprodutores animados. Apesar de o programa possuir financiamento do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, os próprios beneficiados têm ajudado no seu custeio. “Eles percebem os benefícios que o programa traz e também o financiam”, explica Israel.
O sucesso do programa rende novas ideias para o futuro. De acordo com o professor Luciano dos Santos Rodrigues, já estão sendo planejados pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG programas de extensão que foquem de maneira específica na área de resíduos sólidos, vislumbrando novas formas de enfrentar impactos causados por eles.
Redação: Lígia Souto – Proex