O búfalo não é um animal muito conhecido no Brasil e sua carne e seu leite não são muito consumidos, seja pela ausência em supermercados ou por fatores culturais. Mas a presença dos bubalinos tem aumentado nos pastos dos criadores nos últimos anos. Um dos motivos é o implemento da Portaria nº 236 pela Secretaria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sipa) que permite a incorporação de 30% do leite de búfala ao leite de vaca, o que acabou incentivando vários produtores a incluir este animal em suas criações com o objetivo de aumentar a remuneração paga pelas cooperativas e laticínios.
Mas, por mais que sejam semelhantes, os búfalos não podem ser tratados da mesma forma que os bovinos. Com o intuito de conhecer mais a fundo as necessidades específicas destes animais e oferecer informações aos criadores, a Escola de Veterinária da UFMG fundou o Centro de Biotecnologia em Bubalinocultura na Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo, em 2003. Ele faz parte de um projeto de extensão coordenado pela professora Denise Aparecida Andrade Oliveira, do Departamento de Zootecnia.
Segundo Denise, o local surgiu principalmente da necessidade de se estudar os vários aspectos da criação de búfalos como produção, nutrição e genética e oferecer informações mais precisas aos pequenos produtores rurais que não têm respaldo técnico em suas propriedades. “Muitas vezes um criador oferece aos búfalos o mesmo tipo de alimentação que ele dá aos bovinos e não obtém o resultado esperado. Não podemos tratar de forma igual duas espécies tão diferentes, pois cada uma tem uma necessidade nutricional específica”, avalia a professora.
A ideia é agregar os pesquisadores de búfalos do Brasil inteiro para que eles venham trabalhar junto ao pessoal da UFMG e assim reunir gente para fazer pesquisas em todas as áreas possíveis. “Dessa forma, conhecemos o búfalo mais a fundo e propomos os melhores métodos de criação e alimentação, tratamento de doenças específicas e melhor forma de produção. Orientamos os produtores para que possam ter melhores resultados, gastando menos e em menor tempo”, explica Denise.
Poucos animais pertencem ao centro e ele funciona, principalmente, recebendo animais de criadores, que ficam na fazenda por um certo tempo sendo pesquisados e depois são devolvidos, formando uma parceria entre pesquisadores e produtores. Todo o resultado das pesquisas é revertido em conhecimento para os profissionais da área. “Já promovemos vários cursos para criadores, técnicos e veterinários em vários níveis, e treinamentos para pessoal do campo. Também publicamos artigos científicos de algumas pesquisas e artigos de divulgação em revistas”, afirma Denise.
Sêmen
Como parte do Centro de Biotecnologia surgiu o Centro de Referência em Sêmen de Búfalo, coordenado pelo professor Marc Roger Jean Marie Henry, do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias (DCCV), que visa disponibilizar o sêmen certificado para os criadores. Os pequenos produtores só têm acesso a material genético que não passa por exames de certificação de origem e qualidade e isto tem um impacto negativo sobre a produção de carne e leite. Só existem no Brasil duas centrais que realizam a coleta, e mesmo assim eles não fazem um trabalho específico com búfalos. ”Ás vezes o animal passa meses na central e não é coletada nem uma dose de sêmen, porque eles não sabem trabalhar exatamente com os bubalinos. Então, nós montamos um setor específico para coletar este material, fazer análises e disponibilizar o sêmen certificado”, explica Denise.
As coletas são realizadas uma ou duas vezes por semana e os procedimentos são feitos por estudantes de pós-graduação juntamente com alunos de iniciação científica. Por enquanto o laboratório vai funcionar com o intuito de pesquisa, mas nada impede que depois o material seja vendido, até mesmo para arrecadar recursos para que o centro possa se manter. “Ainda estamos em fase de treinamento de coleta e realizando testes para obter os melhores resultados pós-descongelamento. Para que no futuro este material possa ser usado em programas de melhoramento genético e até para comercialização se for o caso”, explica o coordenador Marc Henry.