A pesquisa sobre Varíola Bovina, desenvolvida pelo grupo coordenado pela professora Zélia Inês Portela Lobato na Escola de Veterinária, resultou na patente de uma vacina contra a doença. O processo de pesquisa durou cerca de 10 anos e foi realizado por um grupo que envolveu professores, alunos de pós-graduação e de iniciação científica.
A Varíola Bovina possui consequências econômicas e sociais visíveis: a doença se espalha com facilidade e de forma acelerada. Isso diminui drasticamente a produtividade das fazendas de gado. “Em fazendas de produção leiteira onde há a contaminação das vacas em lactação, a produção de leite sofre uma queda de no mínimo 30%, já que a ordenha fica comprometida”, afirma a professora Zélia.
Os remédios para o tratamento da doença são caros e nem sempre o produtor possui condições para o tratamento. O que faz aumentar a ocorrência da Varíola Bovina em pequenas propriedades. Além disso, a doença é considerada uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida para os humanos. Embora não seja fatal, ela exige cuidados e afastamento do trabalho.
A pesquisa e a patente
Os pesquisadores realizaram um estudo a partir da análise de pessoas em contato diário com zonas rurais, especialmente com locais onde há surto da Varíola Bovina. Foi observado que os indivíduos dessas regiões possuem uma quantidade maior de anticorpos contra o vírus, daí a ideia de criar uma vacina.
O estudo foi feito por meio de ensaios em camundongos e utilização de diferentes abordagens. O resultado da pesquisa foi um produto final que diminui a ocorrência da doença e que pode ser patenteado.
A equipe observou que o leite produzido pela vaca com Varíola Bovina é infeccioso mesmo após a cura das lesões. Não foi comprovado ainda se a ingestão desse leite ocasiona a doença. Contudo, esse ponto poderia comprometer, também, o mercado de leite e derivados, especialmente o de queijos presente em Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais , em que o produto é realizado com o leite cru.
A vacina patenteada ainda não se encontra no mercado, mas a professora Zélia destaca seus benefícios para a sociedade: "É uma ferramenta importante não só para evitar o prejuízo decorrente da doença nas propriedades atingidas, mas também por uma questão de saúde pública. Se o animal for vacinado, temos certeza de que a eliminação do vírus no leite e em outras secreções irá diminuir, consequentemente, será bem menor a probabilidade de ter vírus circulando no queijo e no leite destinados ao consumo humano. A criação da vacina é direcionada não só ao ser humano, mas à proteção dos bovinos. Temos a necessidade de prevenir essa doença; claro que há outras formas de prevenção, mas a principal é a vacina. Mesmo que os animais estejam suscetíveis e que o vírus seja inoculado, o animal vacinado não apresentará a doença. E se o bovino não adoece, o homem também não adoece". A professora Zélia divide a patente com a professora Maria Isabel Coelho Maldonado Guedes e com a aluna Ana Carolina Diniz Matos. O grupo também contou com a ajuda da aluna Izabelle Silva Rehfeld.
O que é a Varíola Bovina
A Varíola Bovina atinge geralmente animais de produção naturalmente infectados. Ela é uma doença causada por um vírus, podendo acometer bovinos, equinos bubalinos, espécies silvestres e humanos. No caso dos bovinos, a doença é caracterizada pelo surgimento de áreas vermelhas e lesões nos tetos das vacas, que posteriormente evoluem para úlceras e crostas até a sua fase final de cicatrização.
A doença é facilmente transmitida, já que a inclusão de apenas um animal doente na propriedade pode infectar todo o gado. A atividade de ordenha também pode transmitir a Varíola Bovina através do contato da mão do ordenhador – ou do copo da teteira em casos de ordenha mecânica – com a ferida da vaca doente e posteriormente com a teta de uma vaca sadia.
A Varíola Bovina em humanos
A Varíola Bovina pode acontecer nos humanos de forma direta, quando o indivíduo encosta na ferida do animal, ou indireta, quando há o toque em algum objeto contaminado, como nas latas onde é despejado o leite. É importante ressaltar que esse objeto pode ter sido infectado pelo contato com a teta contaminada da vaca ou pela mão de outro ordenhador que estava com a doença.
Os sintomas e a evolução da doença ocorrem de maneira bem semelhante entre homens e animais. Em ambos os casos, a doença inicia-se com pápulas, que são regiões bem localizadas marcadas por vermelhidão. Elas evoluem para pequenas vesículas e depois ocasionam em uma área de erosão. Essa área de erosão vai evoluindo até o surgimento de uma crosta grossa.
As consequências são diferentes entre homens e animais infectados. Enquanto em humanos pode ter acometimento dos linfonodos, febre e dor local, nos animais pode ocasionar outras doenças, como a mamite, que é a inflamação da glândula mamária.
A doença é marcada por um ciclo que dura entre 15 e 21 dias até a cicatrização completa. Os bovinos podem ser infectados mais de uma vez, todavia, a doença recorrente se apresentará de forma mais branda do que na primeira ocorrência.
Como prevenir
Para evitar que a doença chegue à fazenda, é necessário ter atenção no momento da compra dos animais, analisando se estes possuem os sintomas da doença. Nos casos em que a doença já se encontra na propriedade, o ideal é manter o local limpo e tratar as feridas com derivados de iodo, sempre que possível.
"Recomendamos uma medida chamada ‘Técnica dos três baldes’, que deve ser utilizada na hora da ordenha. Nela, são separados três baldes, cada um destinado a uma etapa do processo de higienização. No primeiro balde colocamos água, no segundo cloro (água sanitária diluída de quatro vezes) e no terceiro balde, água novamente. Antes de tocar na vaca, o ordenhador deve estar de luvas antiderrapantes e ele deve higienizá-las nos três baldes. O primeiro balde é destinado para a primeira lavagem, o segundo para a desinfecção e o terceiro para o enxágue. Essas medidas previnem o comprometimento da ordenha e, ao mesmo tempo, impedem que o ordenhador se contamine”, explica a coordenadora da pesquisa.