Diariamente consumimos diversos produtos de origem animal, como ovos, leite, carnes, mel entre outros. Mas será que tudo que sabemos sobre esses alimentos é verdade? Será que vegetarianos realmente tem carência de proteína, ou que frangos criados em granja contêm hormônios prejudiciais à saúde? Por essas e outras questões curiosas sobre alguns alimentos conversamos com a professora Lilian Viana e descobrimos que há vários mitos sobre a nossa alimentação.
Um dos mitos mais presentes entre os consumidores é o de que frangos criados em granja tomam algum tipo de hormônio, pois crescem muito rapidamente. Mas esta informação não é verdadeira. A explicação para isso é bem simples. “Os frangos de granja não tomam hormônios por várias razões: primeiro porque seria inviável aos produtores, já que encarece muito a produção. Ganha-se entre 4 e 5 centavos por frango. Além disso, eles são abatidos antes de chegarem à “puberdade”, logo não há tempo para hormônios fazerem efeito realmente. E um terceiro ponto é que o hormônio teria que ser aplicado individualmente a cada animal, o que também é inviável do ponto de vista do manejo”, afirma a professora Lilian, especialista em inspeção de produtos de origem animal e pescados.
Segundo ela, “o que acontece nada mais é do que o melhoramento genético, que consiste em selecionar as aves com as características desejadas fazendo com que as próximas gerações desenvolvam essas mesmas características, conseguindo assim animais de crescimento mais rápido, maiores musculaturas e consequentemente maior produção de carne”.
Outro mito é o de que o chester também toma hormônios. Mas assim como no caso dos frangos, isto não ocorre. “O chester é uma linhagem diferente de ave, que foi selecionada geneticamente, através de cruzamentos em que se obteve uma ave cujo peito se desenvolvesse mais, naturalmente. Não se utiliza nenhum hormônio”, esclarece Lilian. A pesquisadora enfatiza que “o lucro de quem produz aves é da ordem de centavos por cabeça, logo eles ganham em volume. Se acrescentassem algo tão caro como hormônio, o preço da ave seria altíssimo”.
Carnes
Outras dúvidas muito comuns são em relação à carne de porco. Muitas pessoas têm medo de se contaminarem com cistos de tênia ao comerem carne de porco mal passada. “Mas o que acontece com a carne de porco industrializada hoje, é que os animais passam por um controle sanitário muito exigente e a carne não apresenta esta contaminação”, explica a professora.
Mais uma informação falsa sobre a carne de porco é a de que ela seria uma carne com alto índice de gordura. A resposta em relação a isso não é exatamente essa. “Atualmente, os suínos produzidos em granjas, passaram por melhoramento genético e têm uma quantidade menor de gordura, sendo, alguns cortes mais “lights” que cortes de carnes normalmente denominadas “brancas”, explica Lilian.
Muitos também querem saber se comer aquela picanha mal passada no fim de semana pode fazer mal a saúde. Bom, aí depende. Segundo a professora, “a carne mal passada por si só não faz mal, mas há sim a possibilidade de haver algum parasita na carne que possa ser uma zoonose, principalmente se a carne não for inspecionada”.
E comer carnes exóticas como cobra, rato e rã, será que pode fazer mal? Também depende. “Aqui no Brasil não há uma fiscalização acerca de carnes que não são tradicionalmente consumidas, como cobras e ratos, mas nos países onde esses animais são consumidos com mais frequência, há um controle tão rigoroso quanto o que temos aqui para as carnes de boi, porco e aves”, afirma Lilian. E claro, se a pessoa tiver alergia a algum tipo de carne, o consumo não é indicado. Isso vale também para frutos do mar. “O que faz mal à saúde, é não haver inspeção na produção, no abate e na comercialização destes produtos, e não os produtos em si”, ressalta.
Corantes e Gelatina
Muitas pessoas também se perguntam se é verdade que existem corantes feitos a partir de insetos e se gelatina é de origem animal. Nesse caso a resposta para ambas as perguntas é sim. “No caso do corante, o vermelho colchonilha ou carmim, é feito a partir de um inseto chamado colchonilha, mas seu processamento segue preceitos higiênico/sanitários como qualquer procedimento que envolva a produção de alimentos”, esclarece Lilian. Já a gelatina é feita de cartilagem de porco, boi e também é possível fazê-la a partir da pele de peixes, como explicou a pesquisadora.
Vegetarianos
E os vegetarianos, será que eles têm deficiência de proteína? Podem ter deficiência de alguns aminoácidos essenciais, como a taurina, não de proteína simplesmente. A má notícia é que a proteína animal não pode ser totalmente substituída pela proteína vegetal. “Existem aminoácidos essenciais que só se encontram em produtos de origem animal. Para fazer uma dieta vegetariana restrita é necessário o acompanhamento por um nutricionista, principalmente no caso das crianças” revela Lilian.
Outras curiosidades
Existem algumas outras dúvidas e curiosidades que poucas pessoas sabem, como por exemplo, que “a “Carne verde” é um excesso de sal de cura (nitrito/nitrato) em carne seca ou deterioração bacteriana, não sendo recomendado o consumo desse tipo de alimento”, destaca a professora.
O queijo, um dos alimentos preferido dos mineiros, também é alvo de curiosidades. Muitas pessoas não sabem que “as bolhas do chamado “queijo rendado” são resultado da respiração de bactérias, principalmente do gênero coliforme. Aparece em queijos feitos sem higiene. Mas quando são apenas alguns poucos “furinhos” que aparecem no queijo, normalmente, se deve à prensagem não ser total”, revela Lilian.
“A carne embalada a vácuo tem cor mais escura e cheiro mais forte mesmo. Isso é normal. Pouco tempo depois de aberta passa a ter o cheiro e a cor das carnes sem esse tipo de embalagem”, explica a especialista.
Já em relação ao ovo de galinha, o mito de que o ovo caipira é mais saudável também cai por terra. “O ovo produzido em granja é nutricionalmente e sanitariamente melhor do que ovo de galinha caipira, exceto em relação aos ovos caipira que possuem o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF)”.
Lembrando aos consumidores que a inspeção é fundamental para a qualidade dos alimentos de origem animal. Os produtos de origem animal devem ser inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) ou pelo Instituto Mineiro de Agropecuária estadual (IMA), e o consumidor deve estar atento aos selos que atestam esta inspeção.