Uma doença que ainda é desconhecida pela maioria dos brasileiros e que atinge a bovinocultura e a ovinocultura pode ser motivo de uma grande dor de cabeça para os produtores rurais. A Língua Azul é uma doença transmitida por vírus, que se multiplicam nos vasos sanguíneos dos animais e abaixam drasticamente sua imunidade, aumentando o risco de sofrerem com pneumonia, diarreia e outras doenças.
O principal motivo para a falta de informação dos produtores brasileiros quanto a Língua Azul se deve ao fato de que a pesquisa sobre essa doença no Brasil ainda está no começo. E foi para contribuir com as pesquisas que Simon Carpenter, pesquisador do Pirbright Institute da Inglaterra, veio à Escola de Veterinária da UFMG. Entre os dias 10 e 24 de fevereiro, o pesquisador ministrou um curso para os alunos e realizou um trabalho de campo, no qual montou armadilhas para capturar culicoides q ue podem ser transmissores da doença e transmitiu os seus conhecimentos na área aos pesquisadores da Escola de Veterinária da UFMG.
O objetivo de montar essas armadilhas foi capturar o mosquito transmissor da doença e descobrir quais espécies de culicóides existem na região. Assim é possível descobrir qual o risco da doença ocorrer na região e diagnosticar com mais precisão as casos da doença.
“O nosso primeiro contato com o Simon foi em 2012, quando ele veio em uma reunião com os profissionais da Embrapa, em Brasília, e conseguiu um espaço em sua agenda para vir em Belo Horizonte conhecer o nosso projeto. Foi aí que surgiu a ideia de criar um projeto em conjunto” explicou Maria Isabel, professora da Escola de Veterinária da UFMG. Simon é chefe do Núcleo de Entomologia e Modelação no Programa de Doenças Transmitidas por Vetores, do Pirbright Institute. Essa rede já levou pesquisadores da área para diversos países como Índia, África do Sul e Brasil e é através dela que se torna possível mapear os casos da doença e descobrir formas eficazes de prevenção.
A pesquisa sobre a doença é algo recente, pois até 1988 os casos de animais infectados pelo vírus da Língua Azul não eram muito comuns. Foi a partir da década de 80 que as ocorrências foram ficando mais constantes e que o vírus foi se espalhando pelo mediterrâneo e regiões mais quentes. Os estudos na área podem trazer benefícios aos produtores rurais. “Em caso de ocorrência da doença no rebanho o produtor sofre com a barreira comercial, em que a fazenda é fechada e ele fica proibido de comercializar os seus produtos e seus animais” disse Maria Isabel. A doença também é prejudicial ao desenvolvimento dos animais, podendo levar ao aborto e até à morte.
A doença
A doença é transmitida através dos culicóides, que são insetos transmissores de diversas doenças, sendo a Língua Azul uma das principais. Há relatos de sua ocorrência em todo o mundo, porém a maioria dos casos ocorrem em regiões com grande produção de ovinos, como é o caso da Austrália, Reino Unido e Europa Ocidental. No Brasil, devido à baixa produção de ovinos, a doença não possui muita atenção dos pesquisadores, o que nos leva a indicadores ainda muito baixos.
A doença se manifesta com maior gravidade nos ovinos, porém a infecção dos bovinos pode ser tão grave quanto, levando até mesmo a casos de mortes e abortos. Simon afirma que ainda não se sabe por que a manifestação do vírus nos ovinos é mais intensa, mas explica que há duas teorias. “A primeira supõe que isso se deve ao sistema imune, acredita-se que o do bovino é mais eficiente em eliminar o vírus. E a segunda teoria supõe que há uma variação do vírus, assim um vírus pode se apresentar mais patogênico do que o outro”.
O pesquisador explica ainda que o vírus pode se manifestar de diversas formas no animal, e que os principais sintomas apresentados estão relacionados ao sistema circulatório. “Quando infectado o animal apresenta endema generalizado, que pode deixar a cara e as patas inchadas e deixar o animal letárgico. Em um exame da pata também é possível analisar a evidência da banda coronária, que se destaca e que denuncia a presença de laminite. Internamente é possível perceber também uma grande quantidade de líquido nas cavidades e hemorragia na base da aorta”, explica Simon.
A principal forma de controle da doença é a vacinação dos animais, porém a Língua Azul possui 26 sorotipos diferentes e ainda não há resultado de estudos sobre quais se apresentam no Brasil. Essa falta de dados dificulta o desenvolvimento de uma vacina, uma vez que ela varia de acordo com o sorotipo manifestado.