A cidade de Belo Horizonte tem apresentado, nos últimos anos, um grande aumento no número de casos de leishmaniose visceral entre cães e humanos. A doença é transmitida pela picada do mosquito palha, que pode levar o parasita (protozoário do gênero Leishmania) de um organismo a outro. De acordo com o site da prefeitura, BH já é considerado o município com alta densidade populacional que mais sofre com a doença.
Desde 1994, ano em que foi registrado o primeiro caso humano no município, o número de ocorrências da doença cresceu muito e ela tem se espalhado por mais regionais. Para se ter ideia, de acordo com dados da Gerência de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte, em 94 foram registrados 29 casos humanos da doença em apenas duas regionais, Leste e Nordeste. Já no ano de 2010, dados apontaram 131 casos atingindo todas as regionais, um número mais de quatro vezes maior.
De acordo com a professora do departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da UFMG Danielle Ferreira, o crescimento dos números tem explicação. “Belo Horizonte tem todas as características necessárias para o desenvolvimento da doença. Além de um grande número de cães, aproximadamente 340 mil, a cidade apresenta condições favoráveis para o inseto vetor (mosquito palha), como o clima e a existência de muitas áreas com acúmulo de matéria orgânica”, afirma. Segundo a professora, estas condições estão presentes em todas as regionais de BH e este seria um motivo para preocupação. “No decorrer dos anos se viu nitidamente a expansão da doença para as regiões que fazem divisa com a regional Leste, mas é preocupante o número alarmante de casos em regionais que antes tinham baixos índices, como o Barreiro”, analisa.
As boas condições encontradas para a leishmaniose visceral em Belo Horizonte se aliam à falta de informação da população sobre o assunto, o que agrava o quadro. “Deve-se levar mais informações às pessoas”, salienta a professora. “De acordo com um estudo realizado pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária em 2010, professores de escolas públicas e privadas de Belo Horizonte afirmaram ter como maior fonte de informações sobre a doença os profissionais do serviço público de saúde e os veterinários privados, nos quais confiam completamente. Isso mostra a responsabilidade do médico veterinário em informar corretamente a população”, completa.
Outro importante dado da prefeitura diz respeito ao número de cães examinados em 2010. Foram quase 60% da população canina total estimada, aproximadamente 200 mil animais, no entanto, nem todos os cães com resultado soropositivo sofreram eutanásia. Para a professora Danielle, “muitas vezes a prefeitura não consegue recolher todos os animais, mas a responsabilidade é também dos próprios veterinários e dos proprietários dos animais, que impedem seu recolhimento”. O tratamento da leishmaniose visceral em cães é ilegal e muito tem sido discutido quanto a sua eficácia. Mesmo chegando a uma melhora clínica, ainda não foi possível comprovar que os animais tratados deixam de ser fonte de infecção para humanos e outros cães.
O melhor a fazer é investir na prevenção. Os proprietários têm como opção o uso de uma coleira especial em seus cães a base de deltametrina, que além da proteção do animal contra o mosquito palha, tem eficácia comprovada em relação à proteção coletiva.
Existem ainda duas vacinas anti-leishmaniose visceral canina no mercado. No entanto, além de não serem acessíveis a toda a população devido ao alto preço, garantem apenas a proteção individual do cão. A maneira mais barata e eficaz de se combater a leishmaniose é fazer com que toda a população tenha cuidado com o meio ambiente. “Não se deve deixar matéria orgânica exposta, como lixo, folhas acumuladas, frutos em decomposição, troncos e fezes de animais”, afirma a professora Danielle. Tomando estes cuidados, o vetor terá menos meios para se multiplicar. Fazer exames periódicos nos cães, mesmo naqueles sem sinais clínicos da doença, e permitir a borrifação de inseticidas nos imóveis em áreas de risco com alta infestação do vetor, também são importantes para garantir mais segurança para a população humana e canina de Belo Horizonte.