Anexo à Escola de Veterinária da UFMG, o Hospital Veterinário é uma ponte entre profissionais, alunos e a comunidade externa ao campus. Ele se diferencia por oferecer aos alunos a oportunidade de aprender na prática a função de cuidar não só das patologias dos bichos, mas também a lidar com os proprietários dos animais. Além disso, a meta dos médicos veterinários que ali trabalham, é atender a todos com igual cuidado e atenção. O Hospital também tem se tornado uma referência no que diz respeitos às especialidades. Ultimamente, tem passado por várias reformulações na sua estrutura física para melhor atender seus fiéis clientes, tanto os humanos quanto aqueles que andam sobre quatro patas.
O casal Diva Jiran e Hernandes Spínola e Castro são clientes do Hospital há mais de 40 anos e levaram seu primeiro bichinho de estimação quando a clínica ainda funcionava na região da Gameleira. Tinham 6 cachorros na época e quem precisou de cuidados foi a cadela Suzinha em função de uma hidropisia, também conhecida como barriga d’água. “Já fomos recebidos com carinho e o médico nos ensinou como tirar o excesso de água da barriga da cachorrinha”, lembra Diva.
Em tantas décadas de fidelidade ao Hospital, o casal já levou diversos animais para atendimento. Cachorros, gatos, papagaios, cágados e até macacos quando ainda não havia a proibição do Ibama de possuir animais silvestres. Eles nunca tiveram o costume de comprar os macacos, mas Hernandes é caminhoneiro e sempre via esses animais sendo maltratados nos lugares pelos quais passava e acabava os levando para casa.
Um deles foi a macaca-aranha Branca de Neve, encontrada em Manaus, que ironicamente tinha o pelo todo preto. “Ela estava em um barzinho de beira de estrada muito maltratada, o pessoal queimava ela com cigarro só para vê-la gritar, pois quando gritava a macaca fazia uma cara engraçada e isso os divertia”, lembra Hernandes. D. Diva pediu que Hernandes comprasse a macaca e ela conta que assim que foi libertada a macaquinha pulou em seu colo e se agarrou a ela com muita força, sentindo ali uma protetora. “A partir de então, se estabeleceu uma relação de carinho e o animal foi criado quase que como uma filha. A macaca foi embora quando o dono de um zoológico a pegou para cria-la lá”, se emociona.
São tantos bichos cuidados pelo casal ao longo da vida que eles nem conseguem enumerar ao certo quantos foram, mas lembram de que, do total, 15 já passaram pelas mãos dos médicos veterinários do Hospital. Entre os procedimentos realizados estão cirurgia, tratamento de diabetes e displasia.
“Todos os momentos em que fomos ao Hospital são marcantes. Não só pelo carinho dos estagiários, como também dos professores e recepcionistas. Vimos alunos se transformarem em médicos que atendem lá hoje em dia. Vimos alguns se casarem. Além da mudança de localização do Hospital, outra mudança marcante foi a reforma realizada nos últimos tempos. Pretendemos continuar levando os animais ao Hospital pois existe uma profunda relação de amizade entre nós. É o nosso porto seguro”, finaliza Diva.
Mas engana-se quem pensa que o Hospital só atende cães e gatos. São atendidas inúmeras espécies, incluindo equinos, bovinos, caprinos, ovinos e até aves. E quando há alguma companhia de circo na cidade, já apareceram por lá até mesmo rinoceronte e chipanzé. A maior quantidade de atendimentos é, de fato, na parte de pequenos animais, que hoje varia de 30 a 40 por dia, chegando a uma média de 2000 atendimentos/mês.
O professor Júlio César Cambraia Veado, coordenador do corpo clínico, explica que a parte de atendimento pode ser dividida por espécies e áreas de atuação. “Na parte de pequenos animais a equipe clínica conta com cerca de 20 pessoas, dentre professores, médicos veterinários contratados e concursados, residentes, e a equipe cirúrgica que tem cerca de 12 pessoas com as mesmas qualificações. Já na parte de grandes animais contamos, sobretudo, com a participação de professores e residentes”.
Júlio explica que a maioria dos atendimentos são voltados para a clínica geral, mas os professores também direcionam suas áreas de estudos para alguma especialidade. Isso faz com que, há algum tempo, o Hospital venha prestando um serviço especializado. Entre essas áreas de especialização estão a cardiologia, a ortopedia, a dermatologia, a oftalmologia, a urologia, a odontologia e a neurologia.
A professora Eliane Gonçalves de Melo, diretora do Hospital, endossa que esse caminho da especialização dos professores é inclusive um dos objetivos do Hospital. “Hoje em dia a tendência do Hospital Veterinário é se tornar uma referência nas especialidades e podemos dizer que já se tornou, pois a maioria das clínicas veterinárias que existem hoje são oriundas de médicos formados aqui na escola. Este hospital é referência não só em Belo Horizonte como em Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais e no Brasil”, afirma.
Ser um hospital escola também o torna diferente das outras clínicas veterinárias. O professor Júlio faz questão de dizer que toda a razão da existência do Hospital é a presença dos alunos e que são as situações trazidas diariamente pela sociedade que tornam o aprendizado dos estudantes diferenciado, pois eles já aprendem a profissão baseada em situações reais. “Várias disciplinas eram dadas dentro de sala de aula, simulando situações. Hoje, os alunos são levados ao Hospital e se deparam com situações reais”, defende.
Relação com os proprietários
A relação com os proprietários também é fundamental para o aprendizado dos alunos. A diretora Eliane explica que essa relação nem sempre é fácil. “Muitas vezes não é a patologia do animal que é difícil e sim a abordagem realizada com o proprietário. É muito gratificante ver os alunos terem essa outra visão sobre a medicina veterinária e ter que lidar não só com a situação do animal, mas também com o proprietário, tornando tudo mais complexo”. Ela conta que já houve situações em que estava atendendo com os alunos da pós-graduação e quando delegou a função para um dos estudantes, o proprietário reclamou que queria ser atendido por ela.
Eliane ressalta que os alunos são médicos veterinários formados, muitas vezes fazendo doutorado, são engajados na área e bem capacitados. “Muitas vezes, há alunos que até superam os mestres, mas ainda assim há uma grande resistência. Lidamos com essa situação de maneira tranquila, tentando fazer o aluno compreender que o proprietário não faz isso por maldade, mas apenas por ter a sensação de que quer obter o melhor para o seu animal”, comenta.
Humanização
E quando se fala na relação homem – animal hoje, não se pode esquecer que muitas vezes o animal é tratado como um ente da família e não apenas como um bicho de estimação. Júlio afirma que os médicos veterinários precisam estar preparados para lidar com essas emoções. “Hoje em dia o homem tem um relacionamento de proximidade muito forte com o animal. A chamada humanização da criação dos animais de companhia. As pessoas carregam para o animal uma série de emoções como afinidade e carência, cuidam como se fosse gente, e isso é uma coisa muito delicada. O clínico tem que estar bem preparado para momentos de dificuldade, como por exemplo, um problema terminal em que é indicada a eutanásia”.
Atendimento
O atendimento é totalmente aberto ao público. Os casos de urgência podem ser encaminhados diretamente ao Hospital e os demais podem agendar consultas pelo telefone (31) 3409-2000. O horário de funcionamento vai de 8h às 21h e o atendimento não é gratuito.