Uma grande reunião na Comissão de Agricultura da Câmara de Deputados em Brasília, na qual foi discutido o problema dos resíduos de antiparasitários e seus efeitos na exportação de carne do país, aconteceu no dia 8 de novembro desse ano. É um assunto muito importante a ser colocado em pauta, uma vez que isso tem gerado um prejuízo grande ao Brasil, pois quando os países compradores dos nossos produtos detectam esses resíduos na carne eles preferem não comprá-la ou negociam abaixo do preço de mercado.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne se preocupa muito com a questão, pois ela vem gastando uma grande quantia de dinheiro para testar os produtos e após todo o processamento ela ainda tem gastos para confirmar se essa carne é passível de ser comercializada.
Nesse cenário envolvendo o problema e a reunião, o professor Romário Cerqueira Leite, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária, foi convidado pela Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária para participar do debate. Ele apresentou alguns dados e informações técnicas, afirmando que essa situação não precisaria acontecer, pois o Brasil tem tecnologia para produzir carne sem grandes problemas. Bastava para isso que existissem políticas públicas para o uso dos anti-helmínticos e que planos de controle estratégico fossem implantados gradativamente.
A participação do professor Romário foi positiva, pois ajudou a Comissão a tomar algumas posições das quais ele destaca duas. Primeiramente, o deputado Onix Lorenzoni propôs uma lei para a implantação do Receituário Veterinário, para que os produtos só possam ser comercializados mediante receita e haja um maior controle do uso destes produtos. Outro destaque é o posicionamento do Ministério da Agricultura que vai baixar algumas portarias e emitiu uma nota técnica nº 049, do Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários, mostrando algumas providências que estão sendo tomadas. Já elaboraram algumas instruções normativas para a venda obrigatória sob receita veterinária de antiparasitários e antimicrobianos. E exigiu dos laboratórios produtores uma comprovação dos períodos de carência destes produtos. Deu um prazo estreito de 90 dias para que eles concluam seus estudos para verificar que esses prazos de carência são reais. Fez uma outra portaria, que ainda vai ser emitida, proibindo a utilização de antibióticos e avermectinas em animais que estão prestes a ser abatidos para serem comercializados. Além de implantar procedimentos de vigilância, verificando se estes produtos estão sendo usados na hora de transportar os animais para os abatedouros.
Sem dúvida, todo o mercado de produtos veterinários vai ser afetado, uma vez que essa vai ser a primeira manifestação de política pública. Na medida em que o mercado é ordenado de alguma maneira, aumenta-se o rigor sobre o uso indiscriminado de antibióticos e antiparasitários e dessa forma o Estado está envolvendo uma política pública importante. “Havia uma preocupação sobre a venda e o uso indiscriminado desses produtos. E agora uma questão econômica vai fazer isso acontecer. O impedimento do comércio por causa de resíduos obriga o país a tomar atitudes, que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo”, declara Romário.
O professor afirma que estes produtos são muitos seguros do ponto de vista toxicológicos, mas a presença deles indica que alguma coisa não está bem no processo de produção. “Esses produtos foram usados para o controle de parasitas, mas não foi observado o período que tem que ser esperado para que ele fosse totalmente absorvido e eliminado do organismo do animal, para que ele pudesse ser abatido. Acaba sendo um indicador de que o sistema de produção precisa ser melhorado”, explica.
“Não apresenta grandes riscos para o ser-humano, primeiramente porque quando a carne é comercializada o produto já está muito diluído e segundo porque este mesmo produto é usado no ser humano como antiparasitário também. O maior problema é que isso é um indicador de que as práticas corretas não estão sendo observadas. Os produtos são muito eficazes, mas tem alguma coisa errada na prática de criação e de processamento de alimentos. A sociedade precisa de um produto de qualidade”, conclui.