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Notícia

Escola de Veterinária discute sobre suas ações em Brumadinho

A Escola de Veterinária foi uma das principais instituições a atuar no município de Brumadinho, em função da tragédia ambiental ocorrida há cerca de 3 meses na localidade. Para esclarecer possíveis dúvidas e falar mais sobre as frentes de ajuda, a Escola promoveu, no dia 21 de março, uma palestra abordando esse tema.
 
O evento ocorreu no auditório principal da Escola, às 12h30. Ele se iniciou com a fala da diretora, Zélia Lobato, que deu um panorama geral das ações e contou como foi o primeiro contato da Veterinária com a notícia. Através da professora Daniela Soares, uma das professoras futuramente responsáveis por uma das 4 frentes de atuação da Escola, a Brigada Animal contatou a instituição, entretanto "ela não sabia o que estava acontecendo, então a Escola aguardou para saber o que fazer". Um dos agravantes foi que, na data do rompimento da barragem, 25 de janeiro, muitos professores ainda estavam de férias, assim como os alunos e demais pessoas associadas à Escola. Na segunda-feira, dia 28, surgiu a primeira demanda em Brumadinho, que a Escola prontamente atendeu, levando consigo uma caminhonete cheia com medicamentos, materiais de contenção e outros utensílios que porventura poderiam ser usados no atendimento emergencial aos animais afetados. Zélia afirmou que projetos na região ainda estão ocorrendo, principalmente os de monitoramento da fauna e flora da área.
 
"Esse foi o episódio mais trágico que já fiz parte, mas nunca vi a Escola trabalhar como equipe da forma que foi", completou, "cada um com sua expertise". Ela afirma também que, pela forma e momento delicado no qual a UFMG agiu, isso trouxe mais confiança e credibilidade à Escola de Veterinária, tanto que a "Vale tem um profundo reconhecimento pelo o que fizemos". Ela finalizou sua fala esclarecendo que a Escola também atuou na área da saúde pública, e não somente na dos animais especificamente.
 
 
Em seguida, o professor Eutálio Pimenta, responsável pelos resgates aéreos, deu mais detalhes sobre essa área. Sua equipe foi a primeira a ir, na segunda-feira, e resgatou 3 animais que estavam soterrados pela lama com a ajuda de uma aeronave da Polícia. No primeiro dia, resgataram o primeiro dos 3 bovinos, e no seguinte os outros  2, sendo que nesse último eles ficaram ilhados, devido às fortes chuvas com granizo,  em baixo de uma construção destruída pela lama e tiveram que esperar a chuva diminuir para prosseguir com o resgate.
 
A terceira a falar foi a professora Suzane Beier, responsável pelo atendimento à pequenos animais. Os profissionais envolvidos em sua área ficaram 1 mês, do dia 28 de janeiro à 29 de fevereiro,  de forma ininterrupta, atuando na região, uma vez que foram responsáveis pelos primeiros socorros de animais como cães (114) e gatos (23), totalizando 137 animais. Dentre os profissionais que atenderam esses animais, 29 são residentes do Hospital Veterinário, que se revezaram em uma escala de 4 dias, o máximo permitido. Todos eles ficaram abrigados na Fazenda Experimental Hélio Barbosa, uma vez que as pousadas e hotéis da região estavam majoritariamente ocupados por jornalistas e demais pessoas envolvidas na ajuda à Brumadinho.
 
Eles também contaram com a ajuda de 3 motoristas, sendo 2 da Vale e 1 da Escola, que ficaram à disposição 24h/dia. A Escola disponibilizou, ainda, seu Centro-Cirúrgico Móvel (o mesmo usado no Projeto Agha) para fazer pequenos atendimentos, cirurgias e outros procedimentos, como transfusões de sangue e limpeza de feridas, enquanto a Vale construía um Hospital de Campanha com a assessoria do Hospital Veterinário da UFMG, onde os animais poderiam ser melhor atendidos. Os com uma situação mais crítica foram encaminhados ao Hospital Veterinário da Escola, totalizando 6 animais – eles foram transportados para as instalações do Hospital por algum dos 3 motoristas.
 
Suzane chamou atenção para outros dois aspectos importantes. O primeiro foi que após 10 dias, muitas pessoas que se disporam a ajudar na tragédia foram embora, restando, majoritariamente, apenas os profissionais convocados. A outra, foi sobre a notícia de que a frente havia usados medicamentos vencidos, o que era uma inverdade.
 
Ela revelou ainda que a Escola pretende continuar com as parcerias com a Vale feitas durante a tragédia, como a construção do Hospital de Campanha, e também através de pesquisas. Outra importante parceira que se firmou com a Escola foi a World Protection Animal, ONG internacional voltada para o bem-estar animal, que escolheu a UFMG para apoiar. A ONG irá pagar o tratamento e transporte dos animais até que eles consigam novos tutores.
 
Em seguida, o professor Elias Facury falou sobre o atendimento à animais de grande porte. Ele afirma que uma das dificuldades encontradas foi o estado dos animais resgatados, muitas vezes com desnutrição, doenças crônicas ou com algum outro caso agudo, como berne – houve animais com até 400 ectoparasitas no corpo, uma vez que eles tiveram que adentrar à mata para sobreviver, fugindo da lama ou procurando alimento. Ao chegarem no local, também foi constatado que não havia uma estrutura boa o suficiente para atendê-los, uma vez que foram 53 animais no total, e seria necessário a construção de um novo local, já falado anteriormente pela professora Suzane. Outro caso preocupante foi a expansão de outras enfermidades além da berne, como raiva. Transmitida por morcegos, uma das hipóteses trabalhadas é que a lama destruiu parte do habitat natural desses animais, e a movimentação na área após a tragédia acabou agitando eles e transmitindo a doença para os outros animais. Como resposta, a Escola de Veterinária precisou fazer uma ação de controle e vacinação dos morcegos.
 
O atendimento à Animais Silvestres, de responsabilidade do professor Marcelo Carvalho, atuou de maneira mais pontual, devido à rapidez e  intensidade do desastre. Diferentemente dos grandes animais, os silvestres se escondem na mata – mesmo machucado, tornando o monitoramento mais difícil. Alguns pássaros cativos forma abandonados nas gaiolas, enquanto outros de vida livre também foram encontrados perto da mata, totalizando 8 aves silvestres. Também foram resgatados 2 répteis, 1 mamífero silvestre e 20 aves domésticas. Ele ressalta, ainda, que os órgãos competentes podem multar as pessoas que mantém animais em cativeiro ilegalmente.
 
No Atendimento à Saúde Pública, a professora Danielle Ferreira explicou que todas as pessoas na fazenda foram instruídas sobre a vacinação (como de raiva, hepatite e tétano) e a situação do local. Nessa área, a principal dificuldade foi em relação à identificação dos animais individualmente e à atualização de um banco com dado com essas informações, que totalizaram 254 animais. Como havia várias ONGs envolvidas também foi criado um fluxograma de rotina, para maior controle de toda a situação, além de outros mais específicos do atendimento aos cães, gatos e de ação comum a todos os animais, por exemplo. Segundo Danielle "às vezes ficamos em nossas caixinhas disciplinares, com laboratório, grupos de pesquisa… Um problema como esse exige que a gente se conecte e se encontre".
 
A professora Marília Melo, da área de Monitoramento de Grandes Animais ao Longo do rio Paraopeba, lembrou que "a tragédia se estende por muito tempo" e a Escola atua também no campo dos alimentos, e não somente dos animais. Ela ficou responsável pela avaliação dos mamíferos, como bovinos e equinos, através da coleta de sangue. Parte dessas análises serão feitas em laboratórios de São Paulo, entretanto as primeiras coletas, feitas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), atrasaram por motivos econômicos – uma vez que os exames toxicológicos possuem alto custo.
 
O Monitoramento da Represa de Três Marias ocorrerá com o apoio da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a qual procurou a Escola de Veterinária, solicitando ajuda e suporte técnico para o monitoramento a longo e médio prazo. Ainda segundo o professor responsável por essa área, Henrique Figueiredo, também foi criado um plano de apoio à piscicultura, devido à contaminação pela lama, que pode chegar até a região do São Francisco. Em comparação com a lama do desastre de Mariana, há 4 anos atrás, a de Brumadinho possui maior sedimentação, e muitos peixes morreram por deposição direta desse material em suas brânquias.
 
Para ele, o mais importante é gerar dados que possa garantir a cadeia de custódia para as pessoas que vivem na região, garantindo à elas seus direitos básicos e até mesmo indenizações. Para tal, o AQUACEN, laboratório da Escola de Veterinária e um dos laboratórios oficiais do Ministério da Agricultura, ficará responsável pela coleta de dados. No processo de mensurar os dados da região, foi quase dobrado o número de fazendas que estavam cadastradas no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), passando de 50 para 94. O projeto de monitoramento possui um custo de 1 milhão 980 mil reais, que será pago pela Vale e monitorado pelo poder público.
 
Zélia terminou a palestra afirmando que "foi um momento de muito aprendizado a todos que participaram", além de ser um “reconhecimento da competência técnica de professores e alunos [da Escola de Veterinária]”.
 
Na avaliação da professora Suzane, as maiores dificuldades foram a falta de preparo para uma situação de tragédia, uma vez que estão acostumados à rotina de emergência de um Hospital Veterinário, com toda a estrutura necessária. Quando eles chegaram em Brumadinho, precisavam atender os animais sem ter essa estrutura, o que foi minimizado trazendo materiais e equipamentos do próprio Hospital, como a Unidade Móvel. Entretanto, foi gratificante por outro lado, “porque no meio disso tudo aconteceu a união de todos: funcionários, direção, professores e residentes, todos trabalhando para conseguir ajudar os animais e as pessoas”. Ela afirma que “o sentimento de gratidão foi muito maior que todo o sentimento de estresse, todas as batalhas e dificuldades. Voltávamos exaustos, cansados, chorando, mas felizes”.
 
Já Leide Santos, aluna da graduação em Medicina Veterinária, afirmou que esse é um evento de suma importância, uma vez que “mostrou de forma efetiva a Universidade”, que “dispôs de todo seu conhecimento técnico-científico atender às necessidades da comunidade” frente à esse “desastre, um crime ambiental”.
 

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