Na manhã de segunda-feira, dia 19/08, a UFMG recebeu as deputadas estaduais Beatriz Cerqueira (PT) e Bella Gonçalves (PSOL) para uma nova visita técnica nas dependências da Escola de Veterinária e do Hospital Veterinário, com o intuito de avaliar os impactos provocados pela realização da corrida Stock Car no entorno da Escola durante os dias 15/08 a 18/08. Para recepcionar as deputadas, estiveram presentes a reitora da UFMG Sandra Goulart Almeida, o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, o diretor da Escola de Veterinária, Afonso de Liguori Oliveira, e a vice-diretora da Escola, Eliane Gonçalves de Melo.
Análise dos impactos
A reitora Sandra Goulart relatou como a Stock Car prejudicou as atividades de diversos órgãos da Universidade. Entre eles, estão a Estação Ecológica, a Faculdade de Odontologia, o Centro Esportivo Universitário (CEU), o Centro de Treinamento Esportivo (CTE) e o Hospital Veterinário: todos precisaram interromper os seus respectivos serviços de atendimento à comunidade externa para que a corrida pudesse acontecer.
Unidades de pesquisa da UFMG também foram afetadas e danos às pesquisas desenvolvidas só poderão ser averiguados ao longo dos próximos meses. Entre os impactos, destaca-se o Biotério Central, que abriga pesquisas sobre a doença de Chagas e estudos sobre possíveis novas epidemias, a reitora Sandra Goulart informou que foi registrada a morte de diversos peixes utilizados em laboratório e que o estresse ao qual eles foram submetidos pode afetar a validade de pesquisas em andamento. Análises ministradas pelo Laboratório do Leite também foram atingidas: o equipamento utilizado, avaliado em R$ 9 milhões, é extremamente sensível e precisou ser recalibrado com maior frequência ao longo de semanas para garantir um serviço de qualidade às mais de 14.000 fazendas atendidas.
Essas pesquisas foram prejudicadas tanto pela trepidação do solo causada pelas obras e pela corrida, quanto pela poluição sonora advinda do evento. As equipes de monitoramento da UFMG registram ruídos de mais de 100 decibéis, quase o dobro do recomendado para áreas de hospitais veterinários (55 decibéis). Além de afetar os aparelhos de pesquisa mais sensíveis, os ruídos são extremamente prejudiciais aos animais.
Despesas
Para tentar mitigar os impactos, a Universidade precisou fazer uso de recursos próprios. A reitora Sandra Goulart estima gasto de R$ 1 milhão, necessários para cobrir as despesas do transporte dos animais do Hospital Veterinário e na contratação de pessoal para formação de equipes de monitoramento, por exemplo. E esse valor tende a aumentar: ainda não foram estimados os valores que deixaram de ser recebidos devido à interrupção dos atendimentos. Entretanto, “é impossível mitigar os impactos”, a reitora destacou.
Hospital Veterinário
Além do Laboratório de Aquacultura e do Laboratório de Leite, o Hospital Veterinário foi outra unidade da Escola de Veterinária gravemente prejudicada pela Stock Car.
De acordo com a vice-diretora Eliane Gonçalves, os atendimentos começaram a ser reduzidos três semanas antes do evento, a fim de que o Hospital se preparasse para o momento em que precisasse permanecer fechado. Durante a semana do evento, a redução das atividades foi mais significativa. De segunda, dia 12/08, até quarta, dia 14/08, houve atendimento apenas para consultas agendadas, vacinas e exames. Na quarta-feira à noite, o Hospital foi fechado e assim permaneceu durante quatro dias, até o atendimento ser retomado na segunda-feira, dia 19/08. De acordo com a professora, cerca de 400 animais deixaram de ser atendidos durante esse período.
Desde o início das obras, o acesso de alunos, professores e funcionários foi prejudicado com as diversas intervenções no trânsito, feitas sem aviso prévio para a comunidade acadêmica. A Escola havia sido informada que a entrada principal do Hospital estaria liberada na segunda-feira, dia 19/08. Entretanto, não foi o que ocorreu: a comunidade foi surpreendida ao encontrar o acesso ainda completamente interditado na manhã de segunda.
Infelizmente, a falta de comprometimento e diálogo com a Universidade teve consequências. Ainda durante a visita, foi registrada a morte de uma cadela de porte médio. A médica veterinária Júlia Guimarães, responsável pelo setor de triagem do Hospital Veterinário, compartilhou o relato da tutora da cadela, que, inicialmente, tentou acesso pela entrada principal. Após não conseguir acesso por essa entrada, precisou fazer uma rota alternativa e, ao chegar, a cadela já estava em parada cardiorrespiratória. “A gente não teve tempo hábil para reverter. O tempo para a gente é muito precioso e, infelizmente, dessa vez a gente não conseguiu”, a médica veterinária concluiu.
Fica evidente, mais uma vez, que o entorno do Mineirão e da UFMG não é o local adequado para a realização da corrida Stock Car. A educação, a pesquisa, o meio ambiente e a vida dos animais foram colocados em risco a favor de um empreendimento privado, sem licenciamento, e contrário às vontades de mais de 70% da população de Belo Horizonte. Novamente, a UFMG reitera que não é contrária ao evento, mas sim à sua realização no entorno da Universidade. A Universidade está à disposição do poder público para auxiliar na análise de outro local para a realização da corrida.
Equipe
Antônio C. (fotografia e supervisão), Luísa Aguiar (redação).