Universidade Federal de Minas Gerais

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Notícia

Domesticar animais exóticos exige cuidados especiais e respeito à legislação ambiental

Ter um animal exótico em casa como bicho de estimação é um tanto estranho para muitas pessoas. Mas, isso já está se tornando comum em muitos lares. A convivência com estes animais exige cuidados especiais. Eles podem conviver em harmonia com os donos, mas corre-se o risco de uma reação inesperada, como uma picada ou uma mordida.
 
Acostumados com a casa só para eles, cães e gatos, considerados os domésticos mais comuns, estão tendo que dividir o espaço e o carinho com outros. Cobras, tartarugas, mini porcos, aranhas, iguanas. Estes são alguns dos animais que estão surgindo como uma nova “mania” no mundo pet. 
 
O professor Leonardo Bôscoli Lara, do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG, salienta que há uma instrução normativa no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que explica quais são os animais domésticos, os exóticos e os silvestres. Segundo ele, “os silvestres são todos aqueles que pertencem ao território brasileiro, enquanto que os exóticos são os que não são do território do Brasil”. O professor ressalta ainda que existem exóticos que são domésticos, sendo os cães e os gatos considerados os mais comuns. “A calopsita, apesar de ser uma animal exótico (ela vem da Oceania), é considerada doméstico pela legislação”, afirma o professor. 
 
O que regulamenta a criação de animais exóticos no Brasil é a Instrução Normativa 169 do Ibama. A pessoa pode se tornar um criador de fauna silvestre e exótica, desde que atenda a esta norma. Hoje, isso já está a cargo do IEF (Instituto Estadual de Florestas). Para isso, todo criadouro tem que ter um sistema de marcação. No caso das aves, é muito comum a marcação por anilha (um anel que é colocado no pé da ave ainda filhote). E alguns animais exóticos, como os ferrets, são identificados com o uso de microchips. 
 
Vale ressaltar que lojas que vendem animais silvestres e exóticos precisam de autorização do Ibama para comercializá-los. Quando for comprar qualquer animal deve-se sempre exigir nota fiscal de quem está vendendo. No caso do animal exótico, deve-se ter a nota fiscal dele para ter o animal, pois a compra ou venda ilegais de bichos (ou o seu abandono) – ou seja, a comercialização sem a autorização do Ibama – são crimes puníveis com multa e detenção de seis meses a um ano.
 
Quem opta por essas espécies costuma já ter tido bichos de estimação mais comuns. Algumas vezes eles até compartilham o mesmo espaço na casa. Mas, como orienta Leonardo, “colocar uma serpente num lugar onde um hamster é criado, não dá muito certo. É preciso sempre observar essas questões, pois é mais fácil, muitas vezes, misturar espécies diferentes, e funcionar melhor do que com animais da mesma espécie”.  
 
Em relação à alimentação, Leonardo diz que deve ser a mais próxima possível à que o animal encontra na natureza. “O gato, por exemplo, é um animal carnívoro, e hoje come ração que tem um teor de origem animal muito grande. O furão, por sua vez, é um carnívoro restrito, assim como os gatos. Neste caso, a orientação é dar a ração de gato e complementar com ovo, ou com alguma outra coisa que o furão comeria na natureza. Para o papagaio há rações específicas, mas não há muita pesquisa sobre elas. O recomendado para eles é complementar essas rações com frutas que sabemos que ele come, colocando um ou outro inseto de vez em quando. No caso das serpentes, já existem algumas lojas que criam camundongos para alimentá-las”, afirma o professor. 
 
Ao decidir comprar algum bicho de estimação exótico, opte pela posse responsável. No caso dos ferrets, a situação é específica. Não existe autorização para criadores no Brasil. Portanto, eles só podem ser comprados importados, com todo o trâmite para tal, e devem vir castrados. 
 
Leonardo ressalta a importância dos zoológicos para a preservação das espécies, que muitas vezes sofrem maus-tratos e são abandonadas. “Os zoológicos têm papel fundamental na preservação das espécies, pois abrigam os animais selvagens, silvestres e exóticos que não tem mais para onde ir. Nenhum zoológico compra animal do tráfico, e sempre tentam reproduzir o habitat do animal da melhor maneira possível. São muito importantes, pois várias espécies deixaram de ser extintas por terem exemplares nesses locais”, afirma o professor. 
 
Para Leonardo, parte do que levou alguns animais à extinção foi justamente o status. “Pessoas que gostam de ter um status alto começam a procurar, e como elas geralmente têm muito dinheiro, pagam caro por animais em extinção. Isso ajuda a aumentar a extinção”, ressalta.
 
Mas, o que contribui significativamente para a extinção do animal é a destruição de seu habitat natural, com o desmatamento, as queimadas e o uso indiscriminado de agrotóxicos, mais do que a caça ilegal. A população deve ter uma maior conscientização ecológica e entender que o manejo e a sustentabilidade são imprescindíveis para a preservação das espécies. Por isso, conforme o professor Leonardo, a liberação irrestrita e não programada dos parques ambientais pode se tornar um desastre para as espécies, que encontram refúgio nestes lugares.
 
“Muitas pessoas estão tendo uma consciência maior, apesar de ter poucos recursos financeiros destinados para essas ações. A conscientização ecológica atualmente é bem maior que tempos atrás. A atitude correta é saber aliar o respeito ao animal e à legislação vigente com um planejamento eficaz, que priorize o manejo sustentável e os cuidados específicos exigidos pelas espécies. As pessoas devem ter essa consciência”, afirma Leonardo.
 
A pessoa pode ter a posse responsável provisória do animal silvestre, desde que tenha a autorização do Ibama. Por exemplo, algum animal mutilado, prejudicado pelo tráfico ilegal, e que o Ibama sabe que não tem como ser reintroduzido de maneira alguma na natureza. O interessado deve preencher os requisitos e ficar bem claro que vai cuidar bem do animal, somente nesses casos. 
 
O professor afirma ainda que o veterinário tem sempre que estar orientando as pessoas a manter o local onde o animal está conforme é a região de origem dele. “Alguns pássaros da Amazônia, que vivem em temperaturas sempre acima de 35ºC e com chuvas constantes, sofrem muito quando são levados para regiões mais frias, como no sul do Brasil. Outra ave que também é extremamente sensível ao frio é o corrupião, do norte de Minas – região muito quente e com escassez de chuva durante boa parte do ano”, ressalta Leonardo. 
 
A presença de um animal em casa deve remeter à personalidade e estilo de vida dos moradores, como a condição para cuidar deles. A higiene, o controle de vacinas, a periodicidade de exames e ida ao veterinário são as principais formas de prevenir que eles sofram alguma contaminação, ou demais riscos para a saúde. As pessoas devem estar sempre atentas a essas questões e entender que cada espécie possui uma particularidade, não sendo possível tratá-las da mesma maneira. Para isso, devem buscar orientação de profissionais que estejam aptos para o cuidado que cada animal exige. 
 

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