Para a condução de experimentos científicos com animais, é necessário que se estabeleça entre eles e os pesquisadores uma relação de confiança. Em alguns procedimentos potencialmente estressantes, deve-se evitar que animais e seres humanos tragam riscos uns aos outros. Com o objetivo de construir esta relação saudável, existem as técnicas de doma, que são de bastante interesse para pesquisadores mas também para proprietários e tratadores de animais.
De acordo com o professor Ricardo Reis, do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária, mais que domar os animais, estas técnicas permitem educar humanos na lida com os bovinos. “Nós é que temos que domar a inteligência e trazer ao animal uma boa impressão sobre os seres humanos. Normalmente, esta impressão é de que somos predadores, e a ideia é justamente estabelecer confiança”. Além disso, no caso dos procedimentos científicos, com os animais submetidos a menos estresse, os resultados das pesquisas são mais satisfatórios.
Em agosto, alguns pesquisadores e estudantes que integram grupos de pesquisa da Escola de Veterinária participaram de um curso de doma de bovinos na Fazenda de Igarapé. O professor Ricardo explica que a ideia surgiu de professores que trabalhavam com a respirometria (determinação de toda a troca gasosa realizada pelos animais) e enfrentavam dificuldades na condução da área experimental até a sala onde é realizado o procedimento. “Trata-se de um ambiente fechado e isso é razão de estresse e desconforto para o animal. A partir disso e de outros experimentos de campo onde temos que lidar diretamente com o animal, sempre tivemos a curiosidade de aprimorar o conhecimento ou evoluir a questão da doma de bovinos para tentar chegar a um processo ideal, em que não haja estresse para o animal e para o ser humano”.
As aulas foram ministradas por Nilson Dornellas de Oliveira, profissional especializado na técnica e ligado à Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). A coordenação foi realizada pelos professores Ricardo Reis e Silva, Ana Luiza da Costa Cruz Borges, Diogo Gonzaga Jayme e Lúcio Carlos Gonçalves, todos do Departamento de Zootecnia. Foram, no total, 5 dias de aula, e os resultados já puderam ser observados ao final deste período.
Apesar de o primeiro curso ter sido fechado para apenas 20 pessoas que já estão envolvidas com trabalhos de experimentação, a intenção é que ele passe a ser oferecido pelo menos uma vez ao ano. Segundo Ricardo, “o curso vale principalmente pensando na atuação de pesquisa e na qualidade das informações obtidas, mas também pensando em como passar estes conhecimentos para os produtores rurais e para quem está em formação e trabalhará no campo”.