O programa nacional de INCTs (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia), em parceria com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) se dedica à agregação do conhecimento e a difusão articulada e dinâmica das informações promovendo, assim, condições favoráveis para o desenvolvimento de pesquisas de ponta.
O Instituto de Informação Genético – Sanitária da Pecuária Brasileira, situado na Escola de Veterinária, é um dos 9 INCTs (Instituo Nacional de Ciência e Tecnologia) da UFMG. Criado em parceria com mais 13 universidades federais e com o apoio do Ministério da Ciência e da Tecnologia, o Instituto visa promover um melhor mapeamento organizacional do espaço rural brasileiro.
Em entrevista, o coordenador do Instituto, professor Rômulo Cerqueira Leite, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP) da Escola de Veterinária da UFMG, faz uma avaliação do projeto.
Revendo os objetivos iniciais do Instituto, qual balanço se faz?
Prof. Rômulo Cerqueira: O INCT é um esforço muito grande do Ministério da Ciência e Tecnologia, junto com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e as FAPs (Fundação de Apoio à Pesquisa). Com isso foi possível agregar pessoas em prol de um pensamento conjunto de formação de redes de pesquisas. Na verdade o INCT é isso, uma união de vários pensamentos, de múltiplos projetos. Já são 122 redes de pesquisa aprovadas pelo CNPq. Porém, o nosso INCT tem vertentes um pouco diferentes dos outros Institutos. Ele é um Instituto da informação genético sanitária da pecuária brasileira. Estamos desenvolvendo novas técnicas para verificar fraudes. Veja bem, o consumidor compra nos supermercados postas de peixes, como por exemplo, postas de surubim e não tem nenhuma garantia se o que ele compra é, de fato, surubim. Muitas vezes os peixes vendidos são referentes a uma determinada espécie, mas, no entanto, são de outra espécie completamente distinta. É nesse ponto que entra o trabalho do nosso INCT, estamos preocupados em disponibilizar à população ferramentas para que ela possa se proteger e exigir.
Outra vertente que procuramos atender é no que diz respeito a quais doenças já foram estudadas no país, nas várias espécies. Existe, por exemplo, uma infinidade de trabalhos focados em um mesmo assunto e uma de nossas propostas é realizar um levantamento dos trabalhos que já foram terminados, em qual região do Brasil eles se basearam e com isso criar um banco de dados suficiente para determinar o que ainda é preciso desenvolver, como por exemplo, iniciar uma classificação das raças de animais de produção no Brasil. Pesquisas nesse sentido já estão em andamento, mas é importante perceber que é um trabalho de intensa e constante atualização e continuação.
Em termos de conhecimento, que novas direções o INCT, como estrutura de rede, propiciou e que sem ele não seria possível?
Prof. Não digo não seria possível, mas o INCT é um facilitador, porque quando você agrega conhecimento, quando você agrega pessoas com um mesmo intuito para trabalhar em um mesmo projeto, está criando um processo de completude. Logo, as chances do resultado final ser mais amplo, detalhado e gerar possíveis soluções para os problemas detectados, é muito maior.
Financeiramente, os investimentos têm sido suficientes?
Prof.: Digamos, somente, que para o pontapé inicial, sim. Mas, a longo prazo será necessário que aja mais investimentos, mais reforço, porque, como já disse, esse é um projeto em constante evolução. Não temos a intenção de findá-lo e nem podemos. É um processo contínuo.
O que é necessário melhorar para que a experiência avance?
Prof.: Ainda há muita dificuldade em conduzir o projeto. E é necessário, principalmente que esse trabalho seja desenvolvido em parceria com a comunidade, com a sociedade. A população precisa entender que comunidade e universidade não são duas instituições separadas, pelo contrário, para que se consiga desenvolver um trabalho de interesse comum e que seja funcional e importante para o desenvolvimento do país é necessário que a população se interesse mais pelo que é desenvolvido dentro da universidade.
Quanto ao banco de amostras o que, ainda, é preciso para sua instalação no LANANGRO/MG?
Prof.: O Cepário é um banco de amostras de todos os organismos que já foram estudados e diagnosticados, um banco de amostras de organismos causadores de doenças. Antigamente obtínhamos essas amostras do Canadá, dos EUA, da Europa… Mas depois do 11 de setembro o mundo se fechou, pois o medo de terrorismo biológico é demais. Assim, se você quiser importar amostras dos EUA não vai conseguir. Por outro lado, você consegue comprar vacinas e remédios desenvolvidos pelos países desenvolvidos. Mas será que esses medicamentos vão nos assistir da melhor forma? Se não temos amostras nas quais testar, será como um tiro no escuro.
Daí a ideia do banco. Mas construir um banco de amostras é algo caro e que necessita o envolvimento de muitas pessoas. O objetivo é que esse banco fosse centralizado no laboratório oficial do Ministério da Agricultura, localizado em Pedro Leopoldo, mas até hoje eu não consegui que eles destinassem o local e as pessoas.
Mas nós já temos um banco, em pequena escala e cercado pelo que nos é possível montar dentro da escola. E mesmo com tantas limitações, o nosso banco de amostras de Leptospira (bactéria causadora da Leptospirose) é o maior da América do Sul, são 222 amostras. E esse êxito não pode estancar e muito menos acabar, nosso objetivo ainda é transferir tudo para o Lanangro. A nossa ideia é de que o banco seja perpétuo e que não pertença a ninguém. Esse banco é do povo brasileiro e para o povo brasileiro. A ideia é de que o país tenha um banco de amostras dentro de uma instituição federal para dele poder usufruir.
O Instituto recebe apoio de Instituições do governo? Quais? Qual a importância desse apoio para o desenvolvimento do Instituto?
Prof.: Sim. Temos um apoio muito grande e bastante presente do Ministério da Agricultura. Mas, infelizmente, no Brasil a burocracia é longa e demora muito para conseguirmos as coisas. O apoio mais incisivo do governo nos permitiria uma maior mobilidade no que diz respeito à obtenção de mão de obra, matéria prima e mesmo divulgação do projeto. Nós estamos tentando encontrar uma forma de conseguir mais parcerias, através dos cursos, dos debates que promovemos, das amostras que disponibilizamos. Abrimos discussões, fazemos convites diretos, fornecemos material. Esperamos que em breve haja mais apoio.