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Notícia

Conheça Ana Paula Castro, primeira brasileira a participar do Programa EuroMoonMars

Neste mês de março, em que é celebrado o dia da mulher,  a Escola de Veterinária promoveu uma reportagem especial com professoras e mães, contando sobre como a rede de apoio feminino é importante no desenvolvimento profissional de jovens estudantes. Para encerrar o mês conversamos com Ana Paula Castro de Paula Nunes. Mestre em Direito Espacial, Ana foi a primeira pessoa da América Latina a participar do Programa EuroMoonMars IMA HI-SEAS, realizado no vulcão Mauna Loa, no Havaí, nos Estados Unidos. 
 
Ana Paula durante o Programa EuroMoonMars IMA HI-SEAS no vulcão Mauna Loa, no Havaí, nos Estados Unidos. 
 
O EuroMoonMars IMA HI-SEAS é um programa filiado à Agencia Espacial Europeia, que faz parte do ILEWG (International Lunar Exploration Working Group), dedicado a realizar pesquisas de exploração espacial a partir das chamadas missões simuladas. Os experimentos consistem, basicamente, em testes de campo feitos em ambientes análogos às superfícies da Lua e Marte. Ana Paula conheceu o programa enquanto estava estagiando no Escritório das Nações Unidas em Viena, na Áustria. Ela conta que “nesse escritório tive contato com diversos coordenadores de projetos espaciais pelo mundo, e foi através desses colegas de trabalho que garanti a oportunidade. Foi uma experiência transformadora, sensacional”.
 
Ana Paula no escritório das Nações Unidas, em Viena.
 
A engenheira conta que teve muita dificuldade na busca por auxílio financeiro para realizar a missão. “O programa foi bem desafiador, não conhecia missões análogas, havia pouco tempo para organizar minha participação e encontrar patrocinadores. Meus parceiros europeus já tinham agências conhecidas, que eles poderiam diretamente buscar apoio, já no meu caso, eu estava no exterior e não tinha filiação com nenhuma Universidade brasileira”, porém felizmente Ana Paula conseguiu o incentivo da Agência Espacial Brasileira, além receber auxílio atraves de uma vakinha online, onde consegui arrecadar quase metade do necessario, graças à família, amigos e de muitos desconhecidos. Ela também foi apoiada por diversos outros profissionais da área, divulgando o projeto e incentivando a sua participação, Ana relata que todos estavam muito felizes com a entrada no projeto.
 
A missão teve duração de duas semanas e tinham as mesmas características de uma missão espacial. Além do ambiente inóspito do vulcão Mauna Loa, Ana teve que lidar com os trajes pesados, a alimentação ‘de astronauta' e a rotina de trabalho intensa. Ela diz que ficou extremamente feliz com o convite e se impressionou por ser a primeira pessoa da América Latina a participar da experiência.  
 
 
 
Ana Paula durante o Programa EuroMoonMars IMA HI-SEAS no vulcão Mauna Loa, no Havaí, nos Estados Unidos. 
 
Após a realização do programa EuroMoonMars, no final de 2019, Ana Paula retornou para a China para a conclusão do Mestrado em Direito de Lei e Política Espacial na Beihang University. Porém, pouco tempo depois, o Coronavírus se espalhou pelo país e ela decidiu voltar ao Brasil, encerrando seu  mestrado de forma online em julho de 2020.  Ela não parou de trabalhar ativamente na área durante o isolamento social, Ana diz “agora eu estou empregada em uma empresa no Reino Unido, minha mudança para o país aconteceu a poucas semanas devido às consequências da pandemia. Mas continuo auxiliando o Projeto EuroMoonMars de forma remota, escrevendo artigos científicos, preparando  workshops e selecionando novos participantes para outras missões, inclusive apoiei outro brasileiro, Lucas Brasileiro, que participou de outra missão no início de 2020”. 
 
Além disso, Ana Paula faz parte da iniciativa voluntária das Nações Unidas Space for Woman (O Espaço para Mulheres) no projeto Space4WomenShow, organizado por mentoras credenciadas à essa iniciativa da ONU, em que prepara várias palestras com exemplos de mulheres na área para contar sua trajetória e influenciar jovens. Ela conta que enfrentou muitos desafios na sua formação por ser mulher, “durante a graduação houveram alguns episódios de piadas de mal gosto falando que só fui aprovada por ser mulher, ou de eu ser impedida de fazer trabalhos manuais porque acreditavam que não era para mulheres. E isso não é bom! São habilidades que me foi negado o aprendizado simplesmente por ser mulher”.  A engenheira explica que ao escolher o curso de graduação não se sentiu intimidada pelo ambiente masculino, pelo contrário, ela diz: “eu nunca vi isso como um obstáculo, nem me senti intimidada, se só tem homem está mais que na hora de termos mulheres lá também!”.
 
Ana Paula e suas colegas de equipe do Programa EuroMoonMars IMA HI-SEAS no vulcão Mauna Loa, no Havaí, nos Estados Unidos. 
 
Quando transferiu suas atividades para outros países, Ana Paula não lidou com situações machistas na mesma frequência, ela conta: “não sei se pela barreira linguística ou pela área de engenharia aeroespacial ser mais desenvolvida. Aqui sempre encontrei apoio de outras mulheres, principalmente brasileiras”. 
 
Durante toda sua trajetória científica, Ana Paula gosta de ressaltar que passou por diversos programas públicos de educação aqui no Brasil. Estudou em colégio público durante toda a infância e adolescência, graduou-se em engenharia aeroespacial pela Universidade de Brasília (UnB), estudou inglês e espanhol pelo Centro Interescolar de Línguas (CIL), também em Brasília, realizou um curso de Astrofísica do Sistema Solar online pelo Observatório Nacional, além de diversos projetos de pesquisa, iniciação científica, e monitorias que realizou na UnB. “Sempre busquei algo além da sala de aula, pois, já entendia que um bom profissional não é só alguém que tem boas notas. Então isso sempre me motivou a buscar outros projetos e participações dentro da Universidade”, relata Ana.
 
Quando perguntada sobre a situação da ciência e da pesquisa nos dias de hoje no Brasil, Ana menciona que fica um pouco triste ao lembrar que teve que enfrentar muitas dificuldades ao seguir sua carreira, “desde a Universidade, quando buscava apoio para alguns projetos, já consegui perceber o quão difícil seria seguir no caminho científico, tem muito apoio, mas poderia ter muito mais". 
 
Depois de conhecer diversos países, ela acredita que não existe desenvolvimento sem investimento nas Universidades e em projetos de pesquisa, é preciso valorizar os profissionais da área, Ana diz: “Foi muito duro. Hoje em dia as pessoas glamourizam essas dificuldades, acham lindo eu ter me esforçado muito, mas não deve ser assim. Pesquisa e ciência é um trabalho normal, como qualquer outro, imagina você ter que trabalhar e não ser pago! Pesquisadores, mestrandos, doutorandos estão todos trabalhando e eles devem ser pagos, valorizados e levados a sério. Estamos vendo a importância desse setor hoje, com a pandemia”.  E ainda completa “não se tem apoio necessário, em vários sentidos, apoio financeiro, apoio institucional e a população não leva a ciência e pesquisa a sério, chamam de balbúrdia e outros adjetivos pejorativos, mas muitos de nós só estamos vivos e saudáveis devido a esses trabalhos”.
 
Por fim, Ana Paula Castro demonstra muita felicidade e realização por ter chegado onde está, “eu me sinto muito realizada por tudo nessa minha caminhada, de me formar na Universidade e no Mestrado, o programa EuroMoonMars, ter conseguido um emprego numa área que eu gosto muito. Então eu me sinto muito privilegiada e muito feliz por todas as minhas conquistas”. 
 
A pedido da Escola, Ana Paula ainda deixa alguns conselhos para as meninas e mulheres que desejam seguir o caminho da pesquisa e desenvolvimento científico: “Meu conselho não é fazer o que eu fiz, mas tentem se envolver nessas oportunidades que a Universidade gera, iniciação científica, projetos de pesquisa, competições, empresa júnior, tudo isso faz muita diferença, não só na caminhada profissional mas também na sua ‘autoestima’ profissional. Além disso, eu diria para que vocês sejam curiosas! Nunca parem de descobrir novas coisas. Perguntem às pessoas que já estão lá como elas fizeram esse caminho e estabeleçam uma rede de contatos que te abrirão muitas portas. Por fim, se apoiem! Encontre uma rede de apoio que te incentiva e te inspira a ir a frente, essa rede que vai te mostrar que você é capaz e te dar força. Não foi fácil, mas qualquer um pode conseguir, se preparem, desde agora, para que quando uma oportunidade aparecer vocês possam agarrá-las”.
 

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