Pesquisadores da Escola de Veterinária, sob a coordenação da profa. Denise Aparecida Andrade de Oliveira, estão realizando dentro do projeto INCT de Informação Genético Sanitária da Pecuária Brasileira e de um outro projeto em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), uma pesquisa para identificar geneticamente as espécies de peixes mais significativas da Bacia do Rio São Francisco. Os peixes são coletados, identificados por taxonomistas, e têm seu DNA sequenciado. Tal processo passa a ser como um “código de barras” que permite identificar cada espécie.
Segundo o biólogo Bruno Brasil, a pesquisa tem várias aplicações práticas tais como auxiliar na fiscalização dos repovoamentos ("peixamentos") de rios, lagoas e represas, bem como na certificação genética do pescado, permitindo ao consumidor saber se está realmente adquirindo o peixe, molusco ou crustáceo que gostaria de levar para casa. “Como exemplo, podemos citar o trabalho realizado com amostras de surubim, espécie escolhida como modelo para a pesquisa. Foram adquiridas em vários supermercados da Região Metropolitana de Belo Horizonte amostras do peixe em postas, filés e peixes inteiros. Especialmente entre as amostras de filés foi constatado um alto índice de fraude (54%), sendo que o peixe anunciado como surubim era na verdade uma espécie de menor valor. Até mesmo filés de peixes marinhos estavam sendo vendidos como surubim”, explica Bruno.
Outro fato recentemente detectado pela professora Denise foi a substituição do peixe Congrio (ou Congro), cujo preço por quilo chega a R$ 50,00, por outra espécie de menor valor e até mesmo considerada tóxica, devido ao seu alto teor de gordura, podendo levar a quadros de diarréia grave em pessoas mais sensíveis. “Foram adquiridas amostras em um determinado supermercado de Belo Horizonte, como sendo dos peixes Congrio Rosa e Congrio Negro, ambas comercializadas pela mesma empresa filetadas e embaladas. As amostras de Congrio Negro não corresponderam a esse peixe e sim ao chamado Peixe Prego, caracterizando a fraude”, afirma Denise.
Outro problema que agora pode ser combatido com a nova tecnologia é a venda de certos tipos de peixes em épocas em que a pesca é proibida. O biólogo cita um acontecimento recente no qual “um estabelecimento estava vendendo surubim numa época em que a pesca desse peixe no Rio São Francisco era proibida. O vendedor alegava que o peixe era proveniente da Bacia do Paraná, e inclusive tinha uma nota fiscal que mostrava isso. Mas através da análise genética pudemos verificar que o peixe era, na verdade, da Bacia do São Francisco. Neste caso, ele estava vendendo com uma nota falsa. O IEF multou o estabelecimento e esse episódio serviu para divulgar essa tecnologia, que permite diferenciar, pela genética, peixes idênticos a olho nu”.
A pesquisa, que está sendo realizada é bastante trabalhosa, pois são necessárias várias coletas, em vários pontos do rio, até que se consiga criar o banco de referência com as sequências de DNA de cada espécie. Segundo a professora Denise, "o passo seguinte será a divulgação da tecnologia, de modo a mostrar aos consumidores que já é possível dar-lhes garantia do que estão adquirindo. Mas para que isso se torne realidade será necessária a participação de órgãos que atuam na fiscalização, como o IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) e o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento), a exemplo do que já vem sendo feito pelo IEF".