Universidade Federal de Minas Gerais

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Notícia

Câncer em pequenos animais: uma batalha de médicos e proprietários

Cardiologia, ortopedia e dermatologia. Estas são apenas algumas das áreas presentes no Hospital Veterinário da UFMG e nas quais o médico veterinário pode se especializar. Dentre elas está a recente e muitas vezes pouco conhecida: a oncologia. O serviço de oncologia no Hospital Veterinário começou de maneira modesta. A médica veterinária Gleidice Eunice esteve à frente dos primeiros trabalhos, em 2001, quando ainda realizava o seu mestrado focado em um tipo de câncer: o mastocitoma. Atualmente, é intensa a rotina de trabalho no hospital, havendo uma média de 6 profissionais envolvidos no atendimento, dentre eles médicos veterinários, alunos de pós-graduação e estagiários.

O câncer em cachorros é mais comum do que se pensa e o número de casos tem crescido a cada dia. Segundo Gleidice o aumento de pequenos animais doentes está relacionado com o tempo de vida deles que está cada vez mais longo. “Às vezes acontece em pacientes jovens, mas o câncer é mais comum nos animais adultos e idosos”, afirma. Ela explica que o aumento da expectativa de vida se deu principalmente em razão dos avanços na medicina veterinária, vacinações, alimentação de qualidade, diagnósticos mais eficientes de doenças e consequentemente um melhor tratamento através de medicamentos específicos. “Antigamente, um animal de grande porte com 8 anos já era considerado idoso. Hoje, encontramos cachorros com 12 anos e com um bom estado de saúde geral”. Além da velhice, algumas raças são mais predispostas a desenvolver a doença. “O boxer e o Golden são as raças que possuem uma incidência maior dos processos neoplásicos”, esclarece a médica.

O mecanismo pelo qual o câncer se forma nos animais é exatamente o mesmo que acontece no homem. Existindo assim, vários tipos de câncer. A carcínogenese química é um deles. “Existem estudos que mostram que até mesmo o cão pode ser um fumante passivo e desenvolver a doença pela exposição à fumaça do cigarro”. Há também a carcínogenese viral, quando é um vírus o causador de determinado tipo de câncer, provocando uma incidência altíssima dos linfomas no organismo do animal doente. Há ainda a carcínogenese física, provocada por radiação. Neste caso, raios-X e radiação solar podem provocar câncer de pele, principalmente nos pets de pelagem clara.
A maior incidência no Hospital Veterinário são os casos de câncer de mama, seguido dos casos de linfoma. É uma patologia extremamente frequente na cadela e o número de casos é muito maior que na mulher. “No caso de câncer de mama em humanos, é bem clara a regra geral de que o câncer aparece por fatores hormonais e hereditários. No caso de animais, a ação hormonal é comprovada, mas o fator da hereditariedade ainda não é uma certeza”, revela Gleidice.

A oncologia é dividida em consulta, cirurgia e quimioterapia. A quimioterapia demanda um grande número de pessoas e é realizada sempre às terças-feiras. Nestes dias são atendidos cerca de 15 animais.

Na oncologia veterinária, muito mais que a cura, a prioridade no tratamento é a qualidade de vida do animal, mantendo o paciente bem pelo maior tempo possível. São usadas doses menores do remédio para que os efeitos colaterais sejam menos intensos. “O paciente humano tem o objetivo de ser curado e tem consciência de como o processo é traumático. O paciente da veterinária é irracional. Então, não se permite que ele chegue ao seu limite. O pet recebe a medicação, tem a doença controlada, mas também é importante que ele continue se alimentando, se locomovendo, e principalmente se relacionando de forma afetiva com o dono”, explica Gleidice.

Tratamento
A forma de tratamento também vai depender de cada caso. Determinados tipos de câncer, como o linfoma, vão responder muito bem à quimioterapia. Outras doenças serão melhor tratadas com a cirurgia. Também há a opção da radioterapia, mas que ainda não há no Hospital Veterinário da UFMG.

Uma tendência atual na oncologia veterinária, também observada na medicina humana, é a associação de duas ou mais opções terapêuticas com o objetivo de potencializar os efeitos do tratamento e alcançar melhores resultados.

A cura depende de tempo. O paciente se livra da doença, mas continua sendo avaliado periodicamente para saber se a doença está voltando ou se desenvolvendo em outro lugar. Existe um tempo mínimo de observação de acordo com cada tipo de tumor.

Além do lado clínico, a oncologia envolve muito o lado emocional, pois cria um vínculo entre animal, proprietário e médico veterinário. “O proprietário tem que amar demais o seu animal para enfrentar um tratamento oncológico. Além do alto custo, o proprietário tem que levar o pet várias vezes ao hospital e isso dá muito trabalho”, diz Gleidice.

Uma das proprietárias que resolveu lutar pela vida de seu cão foi Stella Sales, dona de Baltazar. Ela descobriu o problema quando iria castrá-lo em outubro de 2010. Através de uma dermatite, surgiu a suspeita de que poderia ser um câncer. Dias depois, o cão apareceu com uma glândula do pescoço bastante inchada. Foi feita uma pulsão e um exame. Descobriu-se que ele tinha um linfoma. Baltazar foi encaminhado ao Hospital Veterinário para tratamento específico. “Quando eu descobri minha reação foi só chorar. Entrei em depressão, pois imaginei que não havia cura e que o único caminho seria o sacrifício. Ideia que eu não aceitei, e decidi então enfrentar o problema”, lembra Stella.

No início eram só os remédios, e agora Baltazar é levado periodicamente ao hospital para realizar quimioterapia. “Ele leva uma rotina normal, passeia na rua, brinca, corre e é extremamente dócil. Praticamente não teve nenhum efeito colateral”, diz a proprietária de Baltazar.

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