A Hemoterapia Veterinária, ou terapia transfusional, é um procedimento emergencial que utiliza o sangue e seus hemocomponentes para corrigir algum distúrbio hematológico severo. Entre as indicações de transfusão de sangue em animais estão: animais que apresentam anemia, distúrbios da coagulação e/ou deficiências em componentes plasmáticos. Para cada uma das condições, é indicado um hemocomponente específico, ou seja, uma parte específica do sangue. Além dessas condições, é comum a demanda por bolsas de sangue em animais que passarão por cirurgias complexas no hospital veterinário. As principais causas que levam ao desenvolvimento dessas condições clínicas na Medicina Veterinária incluem hemoparasitas, hemorragias, traumas decorrentes de acidentes automobilísticos e outras situações.
A doação de sangue desempenha um papel crucial na manutenção dos estoques do banco de sangue. Esses estoques são fundamentais para salvar a vida de cães e gatos acometidos pelas condições citadas ou que passarão por cirurgias complexas.
Apesar da importância da Hemoterapia Veterinária para o tratamento de animais com distúrbio hematológico, existem ainda mitos em torno da doação de sangue de animais. O principal mito consiste em que a doação cause danos ao doador. No entanto, é garantida a segurança e saúde do doador por meio de um protocolo em que os animais são submetidos a uma série de exames antes da coleta da bolsa. O protocolo envolve um check-up completo sem custo, incluindo exames de sangue para diversas doenças infecciosas.
Contamos com Luís Guilherme, aluno de Graduação em Medicina Veterinária e pesquisador em Iniciação Científica no Banco de Sangue da Escola de Veterinária (sob orientação do professor Rubens) para esclarecer sobre o procedimento.
Quais os pré-requisitos para que um animal seja doador de sangue?
Luís: Atualmente, para um cão ser considerado apto como candidato à doação de sangue, são necessários os seguintes critérios: estar saudável, ter um histórico adequado de vacinação, pesar acima de 25 kg, não ter histórico de doenças infectocontagiosas, não ter recebido transfusão de sangue anteriormente e não estar no período de cio ou gestação. No caso dos gatos, os critérios adotados são: estar saudável, ter histórico adequado de vacinação, pesar mais de 4,0 kg, não ter acesso à rua e, preferencialmente, serem animais castrados. Além disso, todos os animais considerados aptos para a doação passarão por uma bateria de exames para comprovar sua saúde e garantir a segurança do processo de doação.
Existem desafios ou considerações específicas quando se trata de compatibilidade de tipos sanguíneos em animais de pequeno porte?
Luís: Existe. Atualmente, foram identificados pelo menos oito grupos sanguíneos em cães e três em gatos. No entanto, infelizmente, ainda não existem testes acessíveis no mercado para uma avaliação completa da tipagem sanguínea em cães. No nosso banco de sangue veterinário, realizamos a tipagem sanguínea para o grupo DEA 1.1 em cães e a tipagem sanguínea dos grupos A, B e AB em gatos. Para garantir uma transfusão segura, também é protocolo realizar a prova cruzada, um procedimento laboratorial que avalia se o sangue do doador é compatível com o do receptor. Essa etapa é importante para minimizar o risco de reações transfusionais e aumentar a segurança do processo de transfusão sanguínea em animais.
Com que frequência os animais de pequeno porte podem doar sangue e qual é o intervalo recomendado entre as doações?
Luís: Recomendamos, no mínimo, 3 meses de intervalo entre uma doação e outra.
Existem incentivos ou benefícios oferecidos aos donos cujos animais de pequeno porte doam sangue?
Luís: Claro! Tutores que optarem por colocar seus animais como doadores receberão uma série de exames gratuitamente, que incluem hemograma, perfil bioquímico, tipagem sanguínea, testes sorológicos e PCR para doenças infectocontagiosas. O valor total desses exames pode chegar a quase mil reais, e é disponibilizado gratuitamente para os animais doadores no nosso banco de sangue veterinário.
Existem pesquisas em andamento ou avanços no campo das transfusões de sangue em animais de pequeno porte que você considera especialmente empolgantes ou promissores?
Luís: Eu, Luis Guilherme, e minha colega, Ana Luisa, somos os iniciantes científicos do banco de sangue veterinário. Sob a orientação do Professor Rubens, estamos conduzindo uma pesquisa que tem como objetivo investigar a prevalência dos tipos sanguíneos em cães doadores de sangue do banco.
Quais conselhos ou recomendações você tem para os tutores de animais de estimação que estão considerando a doação de sangue para seus animais de pequeno porte?
Luís: Recomendamos que você entre em contato com o hospital veterinário para verificar se o seu animal é um possível candidato para a doação de sangue. É de extrema importância que os tutores compreendam que a doação de sangue pode fazer a diferença e salvar vidas dos animais que amamos tanto.
Como o processo de coleta de sangue em animais de pequeno porte difere daquele em
humanos?
Luís: É importante ressaltar que animais podem necessitar de sedação durante o processo de doação de sangue, o que não é comum na medicina humana. Além disso, em nosso banco de sangue veterinário, realizamos uma avaliação completa do hemograma antes de autorizar a coleta de sangue. Isso é feito para garantir que o doador esteja em boas condições de saúde e que a doação seja segura tanto para o animal quanto para o receptor.
O Banco de Sangue da Escola de Veterinária recebe doações de cães e gatos. As coletas acontecem à terças e quintas-feiras na parte da manhã. A Escola busca doadores para estabelecer um fluxo contínuo de fornecimento. Para doar, entrar em contato (via ligação ou Whatsapp) para o número (31) 3409-2000 ou enviar um e-mail para agendamentohv@vet.ufmg.br.
É possível, também, adquirir bolsas de sangue ou plasma de cão e gato pelo Banco de Sangue da Escola de Veterinária. Os valores vão de R$300 (plasma de cão ou gato) a R$950 (bolsa de sangue felino). É preciso verificar a disponibilidade em (31) 98511-2198.