Como muitas religiões pregam a diminuição do consumo da carne vermelha durante a semana santa, o consumo de peixes aumenta nessa época do ano. A estimativa da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR) é que cada brasileiro come, em média, 10 quilos da carne branca por ano. Fonte de proteínas e com baixo índice de gordura, o peixe é um alimento saudável, mas que exige um cuidado especial na hora da compra: a ingestão fora das condições apropriadas pode causar alergias, dor de cabeça, vômito, diarréia e desidratação.
 
A nutróloga e professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Isabel Correia, indica que, em primeiro lugar, devemos procurar um lugar de confiança. “vou comprar de um produtor sabiamente confiável. Não tem como, do ponto de vista prático, ir fazendo testes para ver se tudo foi feito de acordo com as normas. Temos que partir do princípio que nossa Vigilância Sanitária faz, por amostragem, a conferência dos produtores”, explica.
 
Em mercados e peixarias, a professora do Departamento de Tecnologia e Inspeção em Produtos de Origem Animal da Escola de Veterinária da UFMG, Lilian Viana Teixeira, aconselha observar “se os vendedores e o ambiente estão limpos. Isso diz muito da qualidade do próprio peixe. Os vendedores devem estar usando jalecos ou roupas claras e limpas, luvas e, se possível, touca”.


Peixes frescos
A nutróloga Maria Isabel destaca que devemos dar preferência aos peixes frescos e de água salgada. “Assim como todo alimento, quanto mais fresco melhor. Mas isso nem sempre é possível quando se morta a quilômetros do mar”. No caso do peixe fresco, seja de água doce ou salgada, você deve pedir para o peixeiro mostrar as características que deve observar, para que não fique tocando nos peixes e contaminando os mesmos.
 
“É importante observar se as escamas não estão soltando em quantidade em demasia; se os olhos estão com manchas ou achatados; se o ventre não está estufado; se as brânquias estão com cor vermelho vivo e se estão bem íntegras; se, ao pressionar o peixe, a marca do dedo some rapidamente; e, por último, se o peixe não tem o cheiro forte. Porque peixe fresco tem cheiro suave”, explica a professora Lilian Teixeira. Na hora da compra, os peixes frescos devem estar cobertos de gelo ou em mostradores resfriados, em torno de 1ºC a 2ºC.

Peixes congelados
No caso dos peixes congelados, o conselho da professora Lilian é “verificar a data de validade, comprar preferencialmente aqueles que são congelados na indústria, que não tenha muita quantidade de gelo solto na embalagem e eles devem estar em freezeres fechados”.
 
Cor
Cada espécie de peixe tem uma cor característica, mas todos devem seguir uma regra: “Essa coloração deve ser bem homogênea, ou seja, estar por igual em todo o peixe, sem manchas. Manchas são características que denunciam que alguma coisa não está boa. A parte mais próxima à coluna ou na linha média do peixe e a barriga normalmente já tem uma coloração mais escura. Isso é normal”, destaca Lilian Teixeira.
 
Bacalhau
No Brasil, todos os peixes salgados e secos são chamados de bacalhau. Ao todo, são cinco espécies diferentes no mercado, sendo que duas são consideradas bacalhau legítimo e as outras, peixe salgado seco e devem ter as espécies escritas no rótulo. Mas, na hora da compra, os cuidados são os mesmos. “todo peixe seco salgado deve ter coloração clara por igual, sem manchas rosadas ou pontinhos pretos. Esses são sinais de contaminação microbiológica”, afirma a docente da Escola de Veterinária.
 
Antes do consumo, é preciso dessalgar o bacalhau. “Basta você colocar dentro de água fresca e, dependendo do tempo que vai demorar, essa água deve ser trocada várias vezes ao longo do dia, principalmente dependendo da temperatura ambiente: se for um lugar mais quente, demanda mais trocas”, ensina a professora Maria Isabel Correia. Para tirar o sal do peixe, o processo deve durar cerca de 24 a 48 horas.

Armazenamento
Em todo o processo de produção e comercialização, o peixe precisa ser tratado com muito cuidado, especialmente em relação à temperatura. “As características favorecem o crescimento bacteriano. O que, por sua vez, favorece a deteriora do peixe. Quanto mais frio ele for mantido, mais lentamente a maioria das bactérias cresce. Então, isso aumenta a vida de prateleira do produto”, afirma a professora Lilian.
 
Em casa, os cuidados devem continuar. “Nenhum alimento deve ser descongelado e congelado novamente. A não ser que seja descongelado sem ser preparado, passe pelo processo de cocção e seja congelado de novo. Mas isso não é o adequado. O ideal é que, uma vez descongelado, seja preparado e consumido”, aconselha a professora Maria Isabel. “Esse peixe corre risco de contaminação, além de perder nutrientes, que já são perdidos, de uma certa maneira, no primeiro processo de congelamento”, alerta a nutróloga.
 
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