Por Alex Araújo, g1 Minas – Belo Horizonte

Adotar cães e gatos é um ato de cuidado comum entre os amantes dos animais. Às vezes, é difícil resistir a um bichinho perdido ou machucado, encontrado na rua. Mas quando isso se torna uma obsessão?

Um estudo do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais (UFMG) apontou que o transtorno se tornou problema de saúde pública quando os tutores, incapazes de prover bem-estar, vivem em ambientes insalubres que favorecem o aparecimento de zoonoses.

Só em Belo Horizonte , 435 pessoas com transtorno de acumulação de animais são atendidas pela Secretaria Municipal de Saúde. De acordo com a prefeitura, as ocorrências são, geralmente, identificadas pelas equipes da Saúde da Família durante visitas feitas pelos agentes.

A médica veterinária, mestre e doutora em ciência animal com ênfase em epidemiologia, Camila Stefanie Fonseca de Oliveira, é uma das coordenadoras de um projeto de extensão destinado à capacitação de agentes de saúde e de combate a endemias.

A iniciativa tem como objetivo preparar esses profissionais de várias cidades para detectar o quanto antes e tratar casos de acumulação de animais.

“Tem uma rede para discutir e apontar soluções. O mais importante é que os municípios criem normas para estabelecimento de política de atenção para o transtorno, e que essa norma inclua a criação de um comitê intersetorial de atenção à situação de acumulação”, apontou Camila.

O que é transtorno de acumulação de animais?

Segundo Rodrigo Barreto Huguet, psiquiatra e membro da Diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), o transtorno de acumulação de animais é uma situação em que as pessoas juntam grande quantidade de bichos – normalmente cães e gatos – em condições que elas não conseguem cuidar dos bichos de forma adequada, como dar boa alimentação, higienização correta e cuidados veterinários.

“A pessoa não tem consciência. Ela até acha que está protegendo esses animais, que cuida deles e que sem ela a situação ficaria pior, mas, na verdade, ela está fazendo mal a eles”, explicou.

O médico disse que o transtorno pode causar doenças tanto para os pets quanto para a comunidade, por causa da falta de cuidados básicos, como a higiene, por exemplo.

Sinais

O problema afeta mais as mulheres – de meia idade ou mais velhas – , segundo o psiquiatra. Ele disse ainda que a falta de zelo pelos animais geralmente não é intencional.

“Essas pessoas têm a personalidade mais rígida, têm alterações de personalidade, é uma pessoa mais isolada, pouco sociável”, falou ele.

📌O médico também disse que elas podem sofrer com delírios, depressão, demência e transtorno psicótico.

Tratamentos

Huguet explicou que o tratamento pode ser feito com remédio e psicoterapia, mas que os casos têm que ser avaliados individualmente.

“É preciso cuidar da pessoa e também dos animais, que deverão ser recolhidos. Seria interessante, ainda, a ajuda de uma assistente social para essa pessoa ter mais vínculos com a sociedade”.

📌O psiquiatra comentou ainda que as pessoas acumuladoras de animais optam por conviver com os bichos porque o dia a dia com eles é mais simples e afetuoso.

📌Como o isolamento é uma característica dos acumuladores de animais, o médico ressaltou que é muito
importante trazer a pessoa para junto dos parentes, com o objetivo de reforçar os vínculos familiares e
sociais.

Atendimento

De acordo com a prefeitura, no que se refere ao atendimento, o paciente é acolhido e acompanhado pelos profissionais da saúde.

📌Essa abordagem é individualizada.

📌O profissional faz o acolhimento inicial para identificar o possível transtorno mental (psicose, transtorno obsessivo compulsivo, depressão) e discute o diagnóstico neurológico e possível intervenção na saúde mental.

📌Após esse processo, são feitas abordagens junto ao paciente e à família. A atuação tem como objetivo evitar, quando possível, a intervenção judicial.

Limpeza do local e tratamento veterinário

A Prefeitura de Belo Horizonte disponibiliza:

 

📌Para que os procedimentos oferecidos sejam realizados, é preciso ter autorização do tutor ou parente responsável.

📌Todo caso em que houver aceitação, por parte do morador, para limpeza do local, é solicitado o preenchimento do Termo de Autorização de Limpeza do Domicílio.

📌Com esse documento é possível que os profissionais da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) entrem na casa e limpem.

📌Antes são realizadas reuniões de preparação, inclusive com a presença do morador.

📌Uma mobilização é feita para retirar os materiais acumulados, e a limpeza é conduzida pelo proprietário, buscando amenizar o sofrimento dele e melhorar o ambiente.

📌Após esse trabalho, é proposto acompanhamento contínuo, garantindo limpezas regulares.

O município interessado em participar do projeto da UFMG, pode entrar em contato pelo @neestufmg. Os treinamentos são on-line.