Os animais de estimação ajudam as crianças a se desenvolverem emocionalmente e a respeitar a individualidade

Raquel Ramos – Do Hoje em Dia – 24/07/2011 – 20:55

Divertidos, alegres e companheiros, os animais de estimação são desejados e queridos por muitas crianças. Seguindo os devidos cuidados, o relacionamento entre os bichos e os pequenos pode trazer benefícios e auxiliar o crescimento saudável.

Com apenas 8 anos, Gabriel Andrade Azevedo já aprendeu a amar e a cuidar dos vários animais que moram na casa dele. O quintal, que é muito espaçoso e lembra um sítio, abriga três cachorros, quatro gatos, coelhos, jabutis, galinhas e até mesmo um gambá. “Gosto muito de brincar com todos. Eles são como amigos”, disse, enquanto abraçava a cadela Sura.

Gabriel conta que, desde bem pequeno, já ficava na companhia dos bichos e que, observando a avó, aprendeu a cuidar deles. Hoje, ele já sabe de cor qual comida deve dar para cada um. “Cachorro e gato comem ração, coelho come folha e milho, jabuti gosta de banana e as galinhas comem milho e semente de girassol”, explica. Passeando entre as árvores do quintal, Gabriel garante conhecer muito bem aquele lugar. “Eu me sinto como um primitivo aqui porque eu já estou muito acostumado”, diz, orgulhoso.

Tanto tempo na companhia dos animais fez com que crescesse o interesse dele pelos bichos, hábito que também é estimulado pelos pais. No quarto do garoto, há uma coleção de livros sobre animais. E Gabriel prova entender do assunto. “De todos os bichos, gosto mais dos dinossauros e das cobras. Aliás, gosto de todos os répteis, que são animais de sangue frio”, explica.

Cláudia Brandão, mãe do garoto, aprova o convívio do filho com os animais. “Acho muito bom porque ele aprende a ter amor pela natureza. Cuidar dos animais ensina muito a criança a ter responsabilidade”, afirma. Ela acredita também que os bichos são companhia para Gabriel, que é filho único. “Às vezes, quando está sozinho, ele desce para brincar com os cachorros. Isso é bom porque nem sempre os adultos estão disponíveis”, diz.

A psicopedagoga e professora da Newton Paiva Sylvia Flores enumera outros benefícios da relação entre bichos e crianças. “É muito interessante os pais permitirem o contato dos filhos com o animal. Isso pode ser extremamente saudável porque é um momento em que a criança vai se desenvolver emocionalmente”, defende.

Ela explica que, ao brincar com uma boneca, por exemplo, uma menina faz com o brinquedo o que deseja. Com o animal é diferente, porque a criança não consegue controlar todas as ações do pet. “Os bichinhos podem ensinar a criança como se relacionar com um ser que tem vontade própria. No caso de o animal não estar disposto a brincar com ela, por exemplo, a criança aprende uma lição muito importante, que é o respeito pela individualidade do outro”, afirma.

Acostumado a lidar com animais, Gabriel Silva Guimarães, de 6 anos, tem duas cadelas, dois jabutis, uma codorna, um pássaro e peixinhos em um aquário. Apesar da pouca idade, ele ajuda nos cuidados com os bichos, dando ração, saindo para passear e até mesmo durante os banhos nos cães. Na opinião do garoto, é a cadela rottweiler chamada Princesa, de 4 meses, que dá mais trabalho. “Ela é muito levadinha e fica fazendo bagunça na ração”, conta. Guilherme, o irmão de 5 anos, também ajuda a cuidar dos animais.

Embora os garotos estejam em contato com os bichos desde bem novinhos, a mãe deles, Magna Lúcia da Silva Guimarães, diz que todas as atividades dos meninos são auxiliadas por ela mesma ou pelo pai. “Como eu estou sempre cuidando dos bichos, eles pegam comida, água e ajudam sem reclamar”, afirma. Na hora de passear com os cachorros, o pai está presente acompanhando as crianças.

Segundo a psicopedagoga Sylvia, as crianças nunca devem ser colocadas como únicas responsáveis pelos cuidados com o bicho. “Se elas não conseguem assumir os próprios cuidados, como vão se lembrar dos compromissos com o animal?”, questiona. O conselho dela é que os pais auxiliem os filhos na tarefa de cuidar de um animal de estimação, lembrando-os de executar algumas tarefas. “Assumir parcialmente as responsabilidades é saudável e produtivo porque, assim, as crianças desenvolvem a responsabilidade com outras coisas”, explica.

Escolha deve ser criteriosa

O professor da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais (UFMG) Fernando Antônio Bretas Viana alerta para alguns cuidados importantes que devem ser tomados quando criança e animal dividem o mesmo espaço. “Quem tem menos de 7 anos só deve ter contato com os bichos sob a supervisão dos pais ou de algum adulto”, defende. Ele explica que, quando o bicho é muito pequeno, as crianças podem acabar machucando o animal com alguma brincadeira de mau gosto. O contrário também acontece porque um cão grande, por exemplo, pode ferir crianças.

A orientação do veterinário é que os pais sejam cuidadosos na hora de escolher o animal que vai morar junto com a criança. Segundo Fernando Antônio, gatos reagem com facilidade quando se sentem ameaçados e, portanto, não são recomendados. Com cachorros, a dica é escolher raças mais tolerantes. “Boxer, poodle, pug e shih-tzu são mais tranquilos. A criança pode puxar orelha, o rabo e eles não costumam ligar”, explica.

 

Fernando Antônio Bretas Viana é professor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG.

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