Mesmo depois de a Copasa ter ampliado a interceptação de esgotos nos últimos três anos – de 65% para 87% dos lançamentos –, nesse mesmo período a qualidade da água do lago só piorou, de acordo com as análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Levando-se em conta o resultado do pior período de seca, que é quando mais concentrados os poluentes estão, desde 2013, a poluição da lagoa aumentou 67%. Dos 21 parâmetros avaliados, 14 foram piores entre julho e setembro do ano passado em relação ao mesmo período de 2014 e 2013 (veja quadro). Para o coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios da Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais (UFMG), Ricardo Motta Pinto Coelho, isso se deve aos mais nocivos lançamentos de poluentes não estarem concentrados no esgoto doméstico despejado pela população e que vêm sendo interceptado pela Copasa. “Há milhares de ligações clandestinas de indústrias lançando um volume enorme de efluentes no reservatório e simplesmente não são fiscalizadas. Não adianta apenas culpar o esgoto dos aglomerados”, afirma.
Apesar de adaptados ao ambiente encontrado atualmente, até mesmo os jacarés, capivaras, cágados, peixes e aves podem ter sua saúde deteriorada com a contínua piora da qualidade ambiental, caso as promessas de purificação do lago mais uma vez não saiam do papel. Segundo pesquisa do professor Ricardo Coelho, pelo menos quatro espécies de zooplanctons que serviam de alimento a outros animais foram extintas do reservatório pela poluição. Outras seis espécies de peixe já não são mais encontradas nas águas. Por todo o espelho d’água veem-se boiando aves aquáticas e peixes mortos. “Atualmente, são animais que estão contaminados por metais pesados e tóxicos e isso é um acúmulo que no longo prazo pode trazer outros efeitos e impedir que vivam na Pampulha se a poluição piorar”, pondera o engenheiro de pesca Luiz Alberto Sáenz Isla, especialista em aquicultura e mestre em ecotoxicologia pela USP.
Para especialistas, um dos animais que demonstram adaptação às condições da Pampulha é o jacaré-do-papa-amarelo. “Esse réptil é um predador ativo que está no topo da cadeia alimentar e não aparenta estar enfraquecido pela poluição. Sua proximidade com os homens e a aparente apatia nos banhos de sol fazem com que se pareça dócil e encorajam contatos que podem ser repelidos a mordidas”, alerta o biólogo responsável pelo Setor de Répteis e Anfíbios da Fundação Zoobotânica da capital, Luís Eduardo Coura.
Reportagem do Estado de Minas mostra o fundo da Lagoa da Pampulha:
PESQUISA Segundo os biólogos da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), a dieta principal do animal consiste de peixes. São estimados mais de 20 indivíduos habitando os três lagos que conectados formam a Pampulha. Os hábitos reprodutivos, o domínio de território, o número atual de exemplares e as espécies que habitam o reservatório estão sendo levantados em trabalho da Faculdade de Veterinária da UFMG. Naquele ponto, a reportagem sondou o fundo do lago usando uma câmera içada por vara de pesca. A profundidade era de apenas um metro e meio. Mas a densidade de algas e material orgânico em suspensão permitiram visibilidade de poucos centímetros e o registro de um borrão verde salpicado de partículas.
O mesmo se repetiu na área próxima à estátua de Iemanjá, no Bairro São Luiz. Na região da Igreja de São Francisco de Assis, a câmera encontrou um o terreno arenoso no fundo. Na Casa do Baile, localizou os alicerces de pedra da ilha artificial. Próximo ao vertedouro, as rochas de sustentação de uma antiga rampa de lançamento de barcos apareceu nas profundezas.