O cenário de inovações para a agropecuária no Brasil se constitui em um vasto de oportunidades para nossos produtores. A pesquisa nacional amadureceu expressivamente na última década e desenvolveu novas práticas que permitem uma verdadeira transformação produtiva.

Esse movimento é central para a temática do agronegócio brasileiro. Por um lado, o país possui o maior rebanho comercial bovino do mundo, com 212 milhões cabeças, e é um dos maiores exportadores de carne bovina – em toneladas e em faturamento. Por outro, apresenta taxas produtivas abaixo das que registram os seus concorrentes. Se estamos em um terreno confortável, é preciso pensar que o cenário atual passa por mudanças e que novas preocupações se colocam frente aos produtores nacionais.

A pecuária ocupa hoje 220 milhões de hectares do território, sendo que 70 milhões de hectares estão localizados na região Amazônica. Só que a expansão da atividade é apontada como uma das principais razões para a intensificação do desmatamento ilegal. No passado era possível expandir as fronteiras de produção na Amazônia com baixo custo, desmatando a floresta intocada. Hoje, o cenário é bem diferente.

A pecuária precisa dar um salto do atual sistema extensivo de baixa rentabilidade para um sistema de produção tecnificado e mais produtivo, integrado diretamente ou indiretamente à cadeia do agronegócio. Ou então terá de abrir terreno à expansão agrícola e perder espaço devido à preocupação global com o meio ambiente.

Para conhecer os melhores caminhos nesse sentido, realizamos o estudo Cenários para a Pecuária de Corte Amazônica, que apresenta um panorama sobre a atividade Brasil – e particularmente na Amazônia – bem como um conjunto de ações de desenvolvimento para o segmento. Para isso tivemos o apoio de uma equipe de 13 pessoas, com quem trabalhamos por 15 meses.

Foram desenhados três cenários principais: um conservador, um tendencial (intermediário, com base nas práticas atuais) e um inovador. Esse último considerou a crescente inovação tecnológica, com base nas chamadas Boas Práticas de Produção Agropecuárias (BPA). Entre elas, podemos citar a melhoria do manejo das pastagens com reforma e rotação, adubação, melhoria genética e o confinamento do gado, além de aprimoramento técnico da gestão do negócio, com foco em administração, meio ambiente e recursos humanos.

A boa notícia é que, pelo cenário inovador, é possível aumentar a produção de gado de corte no Brasil dos atuais 211 milhões para 253 milhões de cabeças até 2030. Isso, mesmo com a redução de 24% de terras utilizadas para pastagens. O ganho financeiro nesse caso seria de R$ 400 a R$ 650 por hectare ao ano. Para comparar, a rentabilidade dos sistemas tradicionais fica entre R$ 130 e R$ 255 hectares ao ano.

Na Amazônia, o campo de oportunidades é ainda mais acentuado. É possível aumentar a produção de 81 para 98 milhões de cabeças, utilizando 27% menos área de pastagens – ou 52 milhões de hectares a livres para outros fins que não a pecuária.

Estamos em um ano de definições sobre metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, que devem ser acordadas na Conferência das Nações Unidas sobre Clima, em Paris. É, então, estimulante percebermos a possibilidade de reduzir a área de pastagem em uma região sensível como a Amazônia. E, ao mesmo tempo, aumentar a produção com mais ganhos aos produtores.

Todavia, o desafio para que esses resultados cheguem a ser alcançados são significativos. Por um lado, a região amazônica apresenta obstáculos naturais de grande dimensão. Isso já dificulta e aumenta os custos da adoção de novos investimentos em boas práticas. Por outro lado, as empresas rurais, independentemente do tamanho, necessitam solucionar problemas e tomar decisões estratégicas e operacionais cada vez mais urgentes. Para isso, é fundamental o uso de ferramentas gerenciais para o diagnóstico, o planejamento e o controle do sistema de produção, o que ainda é incipiente no segmento.

De certa forma, essa transformação da pecuária de corte no Brasil já está em curso. Falta, no entanto, uma pavimentação dos caminhos que aumente da velocidade deste processo. As tecnologias estão disponíveis, sabe-se que é possível produzir mais em menos espaço e com mais ganhos financeiros. Cabe agora ao estado e aos produtores priorizarem o tema e encontrarem soluções conjuntas para promover as mudanças e aproveitar as possibilidades de bons resultados.

*Fabiano Alvim Barbosa é professor adjunto do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG. Britaldo Silveira Soares Filho é professor titular do Departamento de Cartografia do Instituto de Geociências da UFMG e Coordenador do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG.