A Polícia Civil mineira já detectou a presença da substância tóxica mono-etilenoglicol em pelo menos uma das amostras periciadas de um petisco dado a um dos cachorros que sofreram intoxicação após o consumo do alimento . A análise vai de encontro com o que um laudo necroscópico preliminar de dois dos cães mortos, feito por veterinários da Universidade Federal de Minas (UFMG), já havia apontado.

 O caso tem causado grande temor e comoção a donos de pets e o número de relatos de animais adoecidos
só fez aumentar nos últimos dias. Já há registro de pelo menos 18 animais mortos – oito em Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais ,
dois em São Paulo, sendo um na capital e outro no interior, e ao menos uma morte relatada nos estados do
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Alagoas, Sergipe e no Distrito Federal. A
polícia não soube informar quantos animais morreram em cada estado. Todos os cães consumiram alimentos
de uma das três linhas de produtos fabricados pela Bassar Pet Food, que é investigada pelo crime de venda
de produto impróprio para o consumo.
 
 A perita Renata Fontes revelou, nesta sexta-feira (2), em coletiva de imprensa, que a substância tóxica foi
encontrada já na primeira amostra analisada. Ela ressaltou que o produto não pode ser usado em nenhum
tipo de alimento. Em MG, seis cães continuam internados.
 
– As análises ainda estão em andamento, mas a partir do momento em que nós começamos a perícia, a
substância mono-etilenoglicol já foi encontrada em um dos produtos. O etilenoglicol não é esperado de se
encontrar em nenhum tipo de alimento. Não é uma substância alimentícia. Nem para animais, nem para
humanos – disse.
 
 A delegada Danúbia Quadros, da Delegacia do Consumidor, que está responsável pelas investigações em
Belo Horizonte, onde os primeiros casos se concentraram, afirma que o resultado do exame pode ajudar a dar
uma conclusão mais rápida ao inquérito. Segundo ela, a empresa pode ser responsabilizada.
 
– Tutores de outros estados têm entrado em contato com a gente relatando mortes de animais por ingestão
dos mesmos produtos – afirmou, elencando os dez estados onde houve registro de intoxicações. – Temos
várias outras diligências a serem tomadas, mas já trabalhamos com a possibilidade do crime de venda de
produto impróprio para o consumo.
 
 Danúbia também acrescentou que sua delegacia irá concentrar apenas casos ocorridos em Belo Horizonte;
portanto, orientou como os tutores devem agir, caso seus cães comecem a apresentar os sintomas de crise
renal.
 
 – Além dos cuidados imediatos, é preciso procurar imediatamente a delegacia local com o produto em mãos
para que seja periciado e, em caso de morte, disponibilizar o corpinho do animal para ser periciado – diz. – No
caso de os animais terem ingerido esses produtos, apresentando convulsão, diarreia, vômito e prostração, o
tutor deve procurar o veterinário para cuidar da saúde do animal e, paralelamente, procurar também a
delegacia local para providência criminal.
 
 Nesta quinta-feira (1), O GLOBO mostrou um dos primeiros casos que chegaram à Polícia Civil de Minas
Gerais, das tutoras dos splitz alemães Bud, Wals, José e Stela e da pinscher Julieta. Todos tiveram crise
renal após terem comido o petisco e precisaram ser internados. Dois deles, Bud e Wals, não resistiram e
acabaram morrendo. José, Stela e Julieta já receberam alta.
 
– Imediatamente após à ingestão do petisco, os cães apresentaram muita sede. Poucas horas depois, vômito
e prostração. Com dois dias, eles já tinham diagnóstico de injúria renal aguda – contou a advogada Silvia
Valamiel as tutoras dos cinco cachorros intoxicados. – Além do laudo, os sintomas também indicam
intoxicação por esta substância (mono-etilenoglicol).
 
 Ela afirma que as tutoras dos cãezinhos pensam em entrar na Justiça contra a empresa.
– O prejuízo financeiro foi enorme e o emocional, então, imensurável – lamentou.
Governo determina recolhimento do produto.
 
 Após o surgimento de casos, agora em diversas partes do País, o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento determinou, nesta sexta-feira, o recolhimento recolhimento nacional de todos os lotes de
produtos da empresa Bassar Indústria e Comércio Ltda, em razão da suspeita fundamentada de ocorrência
de produtos contaminados , e diante dos riscos iminentes à saúde de animais.
 
 A pasta revelou que, a princípio, os produtos identificados com suspeita de contaminação são os das linhas
Every Day sabor fígado (lote 3554) e o Dental Care (lote 3467). A Polícia Civil mineira, no entanto, ainda fala
num terceiro sabor. A medida é preventiva e poderá ser alterada em razão das informações que venham a ser
obtidas com as investigações que estão sendo conduzidas , conclui comunicado do Ministério.
 
Pegos de surpresa: o que diz a Bassar
 
A Bassar, responsável pela fabricação dos alimentos, divulgou uma nota, onde diz ter sido pega de surpresa
com os casos de intoxicação dos animais com seus produtos e afirma que não utiliza o mono-etilenoglicol em
sua cadeia produtiva, na contramão do que dizem os laudos da Polícia Civil e da UFMG. A empresa afirma
que utiliza apenas o propilenoglicol, um aditivo alimentar presente em alimentos para humanos e animais em
todo o mundo . Por fim, afirma que sua fábrica passou por inspeções do Ministério da Agricultura, e diz que
mandou materiais para análise de um laboratório particular. Veja a nota na íntegra:
 
Nós, da Bassar Pet Food, somos solidários com todos os tutores de pets, nossos consumidores, parceiros e
razão de nossa empresa existir. Somos os maiores interessados no esclarecimento do caso, por isso a
empresa vem tomando todas as providências para esclarecimento do fato, que nos pegou de surpresa, desde
o dia em que recebeu o primeiro relato de possível intoxicação.
 
Assim que soubemos da situação, por precaução, iniciamos a retirada do mercado dos lotes 3554 e 3775 do
produto Bone Everyday.
 
Queremos reforçar que nunca utilizamos a substância etilenoglicol, que está sendo apontada como possível
intoxicante, na fabricação de nenhum de nossos produtos. Utilizamos apenas o propilenoglicol, um aditivo
alimentar presente em alimentos para humanos e animais em todo o mundo. Reforçamos que o propilenoglicol utilizado pela Bassar em seus produtos é adquirido de fornecedores qualificados e renomados, os quais não fornecem somente para Bassar e sim para inúmeras indústrias no ramo alimentar para humanos e animais.
 
Nunca passamos por situação semelhante antes. São mais de 5 anos de história que comprovam a confiança
em nossos processos de fabricação. Prezamos pela qualidade dos produtos e pelo bem-estar e satisfação de
nossos clientes.
 
Nossa fábrica foi inspecionada por mais de uma vez nos últimos dias por funcionários do Ministério da
Agricultura, que atestaram que a planta atende a todos as normas de segurança alimentar e de produção. Os
laudos do MAPA comprovam, ainda, que não há contaminação na linha de produção.
 
É fundamental esclarecermos que não há nenhum laudo conclusivo sobre a causa das mortes de nenhum
dos cães.
 
Já enviamos os produtos citados para análise em laboratório externo, cujo resultado deve ser divulgado nos
100 próximos dias.