O atendimento clínico em exposições de eqüinos é um expediente que não tem acompanhado a evolução da indústria que se formou em torno do cavalo. Esta é a avaliação do momento atual, em boa parte do país, feita por Clayton Eustáquio Braga, professor adjunto da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais – UFMG. Profissional tarimbado, com mais de 30 anos dedicados à eqüinocultura e exercendo o cargo de chefe da Clínica de Eqüinos da UFMG, Clayton revela um lado obscuro, mas presente na maior parte dos eventos agropecuários no interior de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais : a falta de clínicas veterinárias. Segundo ele, a solução só viria se os órgãos públicos obrigassem esses recintos a implantar suas próprias clínicas, se quisessem promover qualquer evento pecuário.

O bom exemplo ele extrai do Parque de Exposições Bolivar de Andrade, mais conhecido como Parque da Gameleira, que funciona na capital mineira. "Temos lá, além de um local maravilhoso e funcional, uma clínica veterinária completa", garantiu. O que ele chama de "uma clínica veterinária completa" se traduz na existência de baias para internação, raio-x, dormitórios para veterinários responsáveis e estudantes em estágio, farmácia completa, escritório e troncos para os animais. E, detalhe: atendimento gratuito.

"Às vezes eu percebo que um criador ou um responsável por determinado cavalo prefere medicar o animal ou deixá-lo passando mal, porque já está quase na hora de ir embora para casa, a encaminhá-lo à clínica. Isso acontece por falta de informação. Se ele soubesse que o atendimento é gratuito e que o proprietário pagará apenas pelos medicamentos utilizados, isso não aconteceria", advertiu Clayton. Em contrapartida, tem o outro lado da moeda. Muitos criadores, de posse da informação, são verdadeiros freqüentadores da clínica. "Eles levam seus animais, pedem conselhos sobre um determinado problema, enfim, usam com a propriedade de um direito que eles têm." Para Clayton, comportamentos como esse são oportunos na medida em que se tornam até mesmo preventivos.

Na Gameleira, quando o caso é mais complicado, como por exemplo uma cólica em eqüinos, o animal é imediatamente transferido para o Hospital Veterinário da UFMG, onde recebe pronto atendimento. Segundo o professor, esse procedimento ocorre somente para animais muito acometidos e com traumatismos sérios, porque, do contrário, a maior parte dos problemas é resolvida na própria clínica.

Ao contrário do Parque da Gameleira, o que se vê, conforme o médico veterinário, são parques de exposições onde sequer existem baias adequadas para os animais. "Se tivermos que proceder um atendimento, teremos que fazê-lo ao ar livre, ou em local inapropriado, o que gera grande transtorno para o criador, falta de segurança para nós profissionais e para os próprios cavalos. E quando o parque não tem troncos e o animal precisa ficar dois, três dias no soro? É um Deus nos acuda!" lamentou.

O que também ocorre com bastante freqüência é o animal já chegar ao recinto com afeções. Pensando nisso e numa forma para minimizar o sofrimento dos cavalos e de seus proprietários, o professor Clayton – ele sempre atuou com sua equipe na clínica do Parque da Gameleira nos eventos da raça Pampa – elaborou um roteiro com dicas muito interessantes. Confira.

No transporte da fazenda para a exposição e vice-versa
Os traumatismos durante o transporte são responsáveis por boa parte do atendimento nas clínicas e podem ser evitados. Para isso, é importante estar atento para:
. Não fornecer alimentação em excesso antes da viagem;
. utilizar, durante o deslocamento, um caminhão apropriado que forneça conforto e proteções para o animal (acolchoamento);
. verificar, antes de embarcar o animal, a presença, na carroceria, de pregos, parafusos, farpas e outras saliências que possam machucá-lo;
. fazer na carroceria o teste de assoalho, para detectar podridão no piso;
. utilizar antiderrapantes para o cavalo não escorregar;
. dependendo da distância a ser percorrida, utilizar caneleiras ou ataduras nos membros do animal é aconselhável;
. parar pelo menos de 4 em 4h para o cavalo descansar, se alimentar (só feno) e beber água;
. nas viagens prolongadas, que envolvem mais de um dia, ao retirar o animal do caminhão é prudente colocá-lo para andar e se exercitar, mas não em excesso. Isso ajuda a amenizar o estresse da viagem e ajuda as articulações.

Na chegada ao evento
. Fazer um leve exercício com o cavalo;
. levá-lo para beber água (pouca quantidade);
. verificar as condições da baia e da cama;
. checar se a água na baia é de boa qualidade;
. observar se não há alimentos velhos no cocho ou espalhados pelo chão;
. nunca deixar o animal 24h estabulado; exercitá-lo sempre que puder;
. fornecer, durante a exposição, de um terço à metade da alimentação que o cavalo recebe na fazenda;
. fornecer preferencialmente feno; o capim cortado é hoje responsável por 90% dos casos de cólicas que dão entrada na clínica;
. observar o cavalo e atentar para qualquer mudança de comportamento do animal. Se isso ocorrer, não hesitar em levá-lo à clínica;
. nunca medicar um animal sem passar pelo crivo do veterinário; muitos cavalos têm seu estado de saúde agravado por conta de medicações administradas por leigos.
 

 

Clayton Eustáquio Braga é professor aposentado do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de veterinária da UFMG.

O Hospital Veterinário é um órgão complementar da Escola de Veterinária da UFMG que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão ligadas aos quatro departamentos da Unidade.