Morte ocorreu 15 dias depois que o menino participou de atividades com um grupo de escoteiros, no parque ecológico na Pampulha
Thales Martins Cruz, de 10 anos, morreu vítima de febre maculosa. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (12) pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que divulgou o resultado do exame realizado pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). A morte foi registrada 15 dias depois que o garoto participou de atividades com um grupo de escoteiros no parque ecológico na Pampulha, em Belo Horizonte.
O comunicado enviado pela SMSA informa que este é o primeiro caso da doença registrado na cidade entre 2015 e 2016. Nos últimos dez anos, esse é o quarto caso de febre maculosa em Belo Horizonte.
Em entrevista coletiva ocorrida na última quinta-feira (8), antes da divulgação dos resultados dos exames, o prefeito de BH, Marcio Lacerda, chegou a orientar que a população evitasse contato com a vegetação do parque.
“Mas o parque não é para as pessoas terem contato com a vegetação?”, perguntou um jornalista durante coletiva de imprensa. “Sim, mas nesse momento de seca, época natural de proliferação de carrapatos, é preciso tomar cuidado”, respondeu Lacerda.
Em relação às capivaras, que é um dos hospedeiros do carrapato-estrela, transmissor da bactéria da febre maculosa, Lacerda disse que o caso precisa de uma solução definitiva. “Elas estão, hoje, incrivelmente, sobre habeas corpus, foram liberadas por uma decisão da Justiça, da qual recorremos”, afirmou. Na semana que vem haverá, segundo ele, uma reunião com o Ibama. “Se tivermos que manter as capivaras lá (na Pampulha), a solução será esterilizá-las para que elas acabem se extinguindo pelo ciclo de vida”, acrescentou Lacerda. Ele disse que também já foi feito um trabalho junto aos proprietários de cavalos.
Medidas
No comunicado divulgado nesta tarde, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que "distribui de forma periódica, um folder informativo para a população, com medidas preventivas para evitar o contato com os carrapatos, além de providências a serem tomadas em caso de suspeita de picada por esse vetor".
A administração pública alega que, em 2015, foram distribuídos 580 mil unidades do folheto. Após a confirmação da morte do garoto de 10 anos, o trabalho informativo foi intensificado.
O comunicado diz ainda que a prefeitura capacita, permanentemente, profissionais de saúde para estarem atentos aos sinais e sintomas desta doença.
A PBH ainda diz manter "permanente articulação com todos os órgãos envolvidos para viabilizar a ampliação das medidas preventivas, educativas e de manejo ambiental adequadas".
Repercussão
Logo após a morte da criança, o caso repercutiu por redes sociais. Em um áudio compartilhado no WhatsApp, um homem pediu para que as pessoas evitassem o parque.
“Peço para quem tiver filho no grupo evitar a Pampulha, o parque ecológico. O filho da prima da minha esposa, de 10 anos, acabou de falecer às 2h, decorrente de febre maculosa, foi picado no parque…”, dizia a gravação.
Vigilância
O monitoramento dos carrapatos é feito três vezes ao ano, de acordo com o ciclo biológico do parasita. Em 2016, a vigilância foi em abril e agosto. A próxima será em novembro. Os agentes vão a locais com grande presença do hospedeiro (capivaras e cavalos), que são a orla da lagoa da Pampulha e na Cidade Administrativa, conforme a Secretaria Municipal de Saúde. Resultados de abril mostraram a presença do carrapato-estrela.
Controle de carrapatos
Sobre o controle químico desse tipo de carrapato, a prefeitura alega que desde 2015 atua no controle químico de carrapatos em cavalos, sendo esse animal o principal hospedeiro do carrapato estrela. O trabalho é feito em parceria com a Associação dos Carroceiros e Universidade Federal de Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais /Escola de Veterinária.
Durante a prevenção, segundo alegou a prefeitura, os proprietários são informados e orientados sobre as medidas de prevenção da febre maculosa, assim como banhos com uso de carrapaticidas em cavalos.
Um levantamento da prefeitura aponta que, em 2015, 68 proprietários e 111 equídeos participaram dessa ação. Ao todo, foram realizados 304 banhos carrapaticidas.
Já em 2016, do início do ano até o momento, já foram realizados 267 banhos, em 106 animais com o uso de produtos que matam os carrapatos.
Posição
Escoteiros. Diretor da União dos Escoteiros do Brasil em Minas Gerais Minas Gerais (original name) Minas Gerais , Marcos Gomide informou que lamenta a morte de Thales Cruz e que o grupo aumentará ainda mais os cuidados durante as atividades.
Medidas de prevenção e de segurança
Vigilância. O monitoramento dos carrapatos é feito três vezes ao ano, com a presença de agentes nos locais para fazer coleta e análise de material recolhido nos hospedeiros (capivaras e cavalos). A orla da lagoa da Pampulha e a Cidade Administrativa foram os locais onde se constatou carrapato-estrela, conforme a Secretaria Municipal de Saúde.
Prevenção. A prefeitura informou que distribui de forma periódica um folder informativo sobre medidas preventivas para evitar o contato com os carrapatos. Além disso, desde 2015 é realizado o controle químico dos carrapatos em cavalos.
No parque. A Fundação Zoo-Botânica informou que a vegetação é podada constantemente, mantendo-se rasteira para facilitar a penetração do sol, o que dificulta a proliferação dos carrapatos. No período seco, a irrigação é intensificada, pois a umidade também não é adequada para o parasita.
Em 2013, a fundação cercou o entorno do parque, evitando a circulação de animais hospedeiros. Além disso, toda a área de visitação está sinalizada, informando as medidas a serem adotadas para se prevenir do carrapato.
É preciso controlar reprodução
O Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais (MMDA) informou, por meio de nota, que é contra a retirada das capivaras da orla da lagoa da Pampulha. Segundo a entidade, elas são uma espécie de “escudo” para os humanos.
A nota explicou que, com a retirada, os carrapatos resistentes vão migrar para outros hospedeiros. Além disso, o MMDA alerta para a necessidade de combater os carrapatos que estão nelas e controlar a reprodução para que haja um controle populacional ético desses roedores. (Bárbara Ferreira)
ANÁLISE
Para especialista, não basta remover roedor
Segundo o especialista de fauna silvestre Leonardo Maciel, a questão dos carrapatos não deve ser simplificada à remoção das capivaras da orla da lagoa da Pampulha. Ele afirmou que o assunto deixou de ser problema de saúde pública e se tornou questão política.
“Há muito tempo estamos avisando a prefeitura. O assunto é muito mais complexo, não basta tirar os animais, é preciso controlar a taxa de nascimento, pois a febre maculosa é transmitida apenas por filhotes. Além disso, é preciso ter em mente que a doença é transmitida por uma série de outros animais, não só pelas capivaras”, explicou o especialista.
A prefeitura informou que recorreu da decisão judicial que determinava a soltura das capivaras e espera análise do mérito para tomar providências. Uma possibilidade é esterilizar os animais, conforme informou o prefeito na semana passada.