Médica veterinária dra. Érica Azevedo Costa respondeu dúvidas enviadas via redes sociais do CRMV-MG, no mês de fevereiro.
Quais são os sinais clínicos mais evidentes?
Os sinais clínicos podem variar desde casos assintomáticos, casos de infecções de vias aéreas superiores semelhante ao resfriado, até casos graves com pneumonia e insuficiência respiratória aguda, com dificuldade respiratória. Dentre as pessoas infectadas pelo coronavirus que foram admitidas no hospital Wuhan, os sinais e sintomas mais prevalentes foram: febre (98%), tosse (76%), dispneia (55%), mialgia ou fadiga (44%). Apesar dos sinais e sintomas do coronavirus serem principalmente respiratórios, também há relato de diarréia. A intensidade e gravidade dos sintomas pode ser muito variável. Apenas a minoria vai apresentar quadros graves. Crianças de pouca idade, idosos e pacientes com baixa imunidade e com doenças já existentes (diabetes, tumos abdominal, disfunção renal, doença hepática crônica, miocardite e doença cardiovascular) podem apresentar manifestações mais graves. No caso do novo coronavirus chinês (2019-nCov), crianças ou adolescentes podem desenvolver sintomas respiratórios leves ou serem assintomáticos. No entanto, o novo coronavirus ainda precisa de mais estudos e investigações para caracterizar melhor os sinais e sintomas da doença.
O coronavirus que está afetando pessoas na China é o mesmo que afeta cães (vacina no Brasil)?
Não. Pesquisas para detecção de anticorpos contra o coronavirus canino (vacina no Brasil) em humanos tem sido feitas. Com isso, até o momento, nenhuma evidência sorológica para infecções por coronavirus respiratório ou entérico canino entre pessoas adultas imunocompetentes foi encontrada, apoiando a premissa de que os humanos não correm risco de infecções por coronavirus canino. No entanto, a transmissão infrequente de coronavirus canino entre espécies não pode ser descartada.
Poderia passar para todos os animais ou é restrito a uma espécie?
Em relação aos coronavirus patogênicos humanos, investigações detalhadas descobriram que o SARS-CoV foi transmitido de civetas (gatos selvagens) para humanos na China, em 2002, e o MERS-CoV de dromedários para humanos na Arábia Saudita, em 2012. Esses são considerados hospedeiros intermediários, que foram infectados por coronavirus transmitidos por morcegos, possivelmente por via fecal-oral. Com isso, podemos inferir que qualquer espécie animal pode ser infectado pelo coronavirus transmitido por morcego. Não significa que esse virus será capaz de sofrer mutações nesse hospedeiro e tornar-se competente para transmitir para outras espécies animais ou mesmo para humanos. Destacamos aqui que a maioria dos coronavirus animais, não são patogênicos para os humanos e infectam apenas uma espécie ou algumas espécies intimamente relacionadas, como aves, suínos, bovinos, gatos e cães, entre outros.
Existe alguma possibilidade do vírus infectar os cães?
Não há evidências que animais domésticos, como cães e gatos, possam ser infectados e transmitir o novo coronavirus. Mas, não podemos de maneira alguma descartar essa possibilidade.
Como ele surgiu no mercado de carne animal?
Os coronavirus patogênicos surgiram no mercado de carne através da captura de animais silvestres já infectados pelo coronavirus na natureza. Possivelmente, como os chineses tem costume de comer carne de animais silvestres, eles capturam esses animais silvestres e confinam esses animais em uma pequena área, favorecendo a transmissão fecal-oral e nasal entre os animais confinados e favorecendo a transmissão via secreção nasal para os humanos manipuladores dos animais e para as pessoas visitantes.
É possível uma vacina sair ao longo dos próximos meses ou pode demorar mais?
Como a doença é nova, não há vacina até o momento. Existem pesquisas em desenvolvimento que ainda precisam passar por testes clínicos.
Qual a viabilidade do vírus em nosso clima tropical (acima de 20°)?
Os coronavirus humanos podem permanecer infecciosos em superfícies inanimadas, em temperatura ambiente (15 a 25oC) por 2 horas até 9 dias. Uma temperatura mais alta, como 30 ou 40°C, reduziu a duração da persistência de MERS-CoV, altamente patogênico. A contaminação de superfícies inanimadas, frequentemente tocadas é, portanto, uma fonte potencial de transmissão viral. Até o momento, não foram encontrados dados sobre a transmissibilidade dos coronavirus das superfícies contaminadas para as mãos. No entanto, pode ser demonstrado com o virus influenza A que um contato de 5 segundos com a superfície contaminada pode transferir 31,6% da carga viral presente na superfície para as mãos.