Com roupa de ginástica e um cigarro aceso na boca, uma senhora puxava seu cão pela Praça Nova York, no Sion, Centro-Sul de BH. Ao atravessar a área de equipamentos de academia, onde jovens e idosos se exercitavam, o cachorro urinou na base de um aparelho de alongamentos. Um rapaz reclamou e teve a atenção chamada pela dona: “Vai fazer ginástica”. “Dá para não sujar o lugar onde a gente malha?”, retrucou o rapaz. Mais do que falta de higiene e conflitos, urina e fezes de animais são fontes de doenças, alertam veterinários, e contaminam boa parte das praças de Belo Horizonte.
Os pontos contaminados foram encontrados com o uso de lanterna ultravioleta, que destaca manchas de resíduos que contêm fósforo, como urina, fezes, sangue, sêmen e outros fluidos. As fezes e o forte odor característico estavam em quase a metade dos locais. Foram avaliadas as praças Alasca, JK, Nova York (no Sion), do Papa (Mangabeiras) e da Liberdade (Lourdes). Os espaços com mais indícios de contaminação foram as praças Nova York, com 67% dos mobiliários apresentando sinais, e da Liberdade, com 61%.
Em nenhum desses locais há área específica para circulação de animais, sendo que apenas na Juscelino Kubitschek o parquinho tem uma cerca que mantém as crianças confinadas e a areia protegida. O ideal seria evitar o acesso dos animais a áreas exclusivas para ginástica e brinquedos.
Na Praça Nova York, os sinais de urina se encontram em alturas de 20 a 30cm do solo e escorrem de todos os brinquedos no parquinho de areia das crianças, em boa parte dos bancos e quase todos os equipamentos de ginástica. “Meu sobrinho quase pisou em urina e num monte de fezes. A praça está imunda. Precisa de fiscalização”, reclamou a design de interiores Cláudia Lima, de 33 anos, que passeava com o sobrinho, João Tongo de 4.
Na mesma praça, a empresária Natália Duarte, de 52, teve dificuldades para conter o cão yorkshire, que deixou sem coleira. O animal correu direto para os postes dos equipamentos de ginástica para urinar, momento em que ela conseguiu pôr a coleira. “Com xixi não tem jeito (de conter). Mas toda vez que o Simba defeca, limpo com um saquinho. Isso é questão de educação e respeito com os outros”, afirma.
Na Praça da Liberdade, a segunda mais suja, o empresário Leônidas Ferreira Júnior, de 47, também leva saquinho de casa para colher as fezes de seu bulldog francês, Buddy. Ele considera o hábito importante para a convivência em espaços como a praça. “Isso mostra como falta educação no país”, afirma.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos disse que é necessário o flagrante da infração. “O cidadão pode denunciar pela Central de Atendimento Telefônico 156 ou no site www.pbh.gov.br.
O que diz a lei
O dono de cão ou gato deve recolher os dejetos e levá-los para casa para juntá-los ao lixo doméstico, segundo a Lei Municipal 10.534/2012. Pelo artigo 70 da legislação, o proprietário, o responsável ou o condutor de animal deverão fazer a limpeza, acondicionamento e remoção imediata dos dejetos do animal depositado em logradouro público, mesmo que esteja sem guia ou coleira. Caso descumpra a legislação, o condutor pode ser notificado a recolher as fezes imediatamente, e se não o fizer estará sujeito a multa de R$ 890,84.